A opinião de ...

O PODER E A INFORMAÇÃO

Em 2011, não sendo portanto de muitos anos o tempo decorrido, a Secretária de Estado Hillary Clinton declarou num discurso inspirado em afirmadas atividades da al-jazira, da China, e da Rússia, que estávamos numa guerra de informação. Neste ano de 2018 é o Presidente dos EUA que declara uma espécie de guerra civil com a informação do seu próprio Estado, talvez esquecido de que ele mesmo tinha agravado o que foi chamado “campo de batalha diplomático”, com a facilidade com que afirma e desconfirma palavras, discursos, e atitudes. No caso de ser plausível que a única coisa que une estes diferentes avisos será que tendemos para envolver o globo num nevoeiro causado pela criatividade de tantas e demonstradas origens, de tal modo que a dialética dos factos fica inacessível ao conhecimento das sociedades pelo tecido da retórica imaginativa das pessoas e instituições, privadas e públicas, que tecem essa rede de inverdades, terão por objetivo interesses impublicáveis. Infelizmente para a autoridade do queixoso dirigente dos EUA, não é tal rede o geralmente apontado causador da relação de conflito, nesse domínio que aponta como predominantemente interno, das suas declaradas inquietações de governante, porque foi o novo Emir do Qatar, a lidar com as suas próprias inquietações em relação à luta de influências que o rodeiam, que terá criado a al-Jazira em 1996 para contrapor a sua intervenção ao domínio da corrente informática ocidental, segundo as conclusões do professor Tristan Mattelart, do Instituto Francês da Imprensa (IFP). Incluiu preocupações do Emirado com pretensões sauditas que contrariam as suas. As circunstâncias flutuantes da situação internacional, das lutas internas, e aspirações de vários países de todas as latitudes, destacando-se os realmente mais poderosos ou próximos dessa qualificação, evoluíram no sentido de admitir que a “batalha diplomática”, bem diferente da ambicionada “ordem diplomática”, é mais responsável, nas mãos dirigentes afastadas dos nobres objetivos da esquecida ONU, pela lonjura da realidade que anima a corrente mundial da informação, do que a eventual violação profissional dos profissionais da informação, muitos deles sacrificados em guerras civis ou internacionais que, estas, com exemplos internacionais não esquecíveis, tornaram o próprio fim da chamada guerra fria, num armistício. Não é por isso de estranhar, mas sim de lamentar, que as cada vez mais intervenientes China e Rússia se tenham vistas obrigadas a criar poderosos instrumentos de difusão de notícias ao redor da terra. A China, por exemplo, entendeu necessário organizar essa luta contra a imagem destrutiva de que se queixava ser objeto. Ressuscitou mesmo, sem o mencionar, a intenção que há dezenas de anos a UNESCO pretendeu levar à prática, de organizar (2011) meios de impedir a chamada “circulação em sentido único” da informação dos países ricos do Norte do mundo contra a total omissão e submissão do antigo terceiro mundo. Este projeto foi causa da primeira retirada dos EUA da UNESCO. É evidente que a batalha diplomática não tem fim à vista, mas também é evidente que a distância da corrente de informação da verdade continuará a contar com semelhante falta de autenticidade, isto é, de concordância entre o anunciado e o feito, o declarado e as reais intenções. A defesa possível está na ética dos profissionais que procuram a preponderância da realidade sobre o declarado, e essa ética, como é essência das Ordens, não consente interferências sequer da hierarquia legal das instâncias proprietárias dos meios de comunicação, avaliam os poderes políticos em disputa, e assim a defesa da veracidade dos factos investigados e da sua apreciação, respeitando tal ética, vingará. Os erros terão sempre a sansão correspondente prevista, mas a falta de autenticidade das correntes políticas em combate, interno ou externo, ou terá a sanção pacífica do eleitorado, ou a reação que pode levar à desordem, ou até ao rompimento internacional da “Trégua” que estamos a viver. A guerra declarada, contra a informação processada pela ética profissional, não anuncia o melhor dos tempos.

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