A opinião de ...

Exército

O escritor galego Álvaro Cunqueiro escreveu ser Bragança a Sedan portuguesa referindo-se à sua imponente cidadela e ponto estratégico militar no Nordeste de Portugal. Tais razões elevaram a urbe bragançana sem altivez mas com ruído de botas cardadas à categoria de cidade militares.
A história regista inúmeros feitos, todos quantos rondam ou ultrapassam os sessenta anos têm imagens da existência deles, da arma de infantaria, em reduzido número, sem nada de extraordinário antes do Batalhão de Caçadores ser extinto. Os anais são de longe mais explícitos; ao longo de décadas e décadas Bragança albergou unidades e especialidades de vária ordem originando um núcleo de oficiais purgado por Santos Costa após a Ditadura Militar. O capitão Vidal e o alferes Fernandes reviralhistas são exemplo disso mesmo, ficaram os do Estado Novo num reino de rivalidades e intrigas onde três coronéis – Direito de Morais, Machadinho e Salvador – rodavam nos ligares de mando até à defenestração ou caídos no olvido.
Uma coisa era e é verdade, a dita Sedan respirava tropa, os meninos gostavam de ver os desfiles de passo acertado, ouvir as cornetas debaixo da gestualidade do famoso cabo RD cuja alcunha era «pardal sem rabo», verem as espingardas Mauser nos ombros dos soldados.
A culminar o ambiente de familiarização militar, muitos rapazes viam na carreira das armas saída para a ascensão social e económica dada a carestia de recursos. Isso explica em parte o nutrido número de transmontanos nos três ramos das Forças Armadas, os quais se distinguiram por bravura, coragem e tenacidade nos teatros de guerra, especialmente na I Grande Guerra e no decurso dos treze anos da guerra colonial. Uma significativa plêiade de militares do Nordeste o confirma.
Ora, há duas semanas o humorista Ricardo Araújo Pereira a propósito do esquisito mistério de Tancos trouxe à parada a figura de um coronel cujas respostas na Comissão de Inquérito me causaram funda e negativa impressão ao ponto de o meu respeito que nutro pela comunidade castrense perder validade. Como é possível um oficial superior de galão largo e três estreitos responder daquela forma? Atabalhoado, abstruso, sem lógica? A ponto de lembrar a jocosa figura do Valente Soldado Cheveik tantas vezes lido (tal como o Helder Barreira) no decurso da estada em Angola por via do cumprimento do dever. O valente soldado rei do não senso fazia-me soltar estrepitosas risadas, o coronel do absurdo Tancos fez-me procurar saber se o Exército «espelho da Nação» tinha atingido o grau zero do abjecionismo. Um coronel do EM na reserva explicou-me: oficiais deste género chegam a generais. Resposta pronta e concisa!

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