A opinião de ...

Sporting

Há anos trabalhei num projecto destinado à criação de Museu dedicado ao jogo. O Administrador do Casino mostrou-se sumamente interessado no fim da exposição exploratória e, por isso mesmo, fomos estudar e fazer contas de somar, não de sumir. A mim calhou-me o encargo de conceber a fundamentação cultural, voltei a ler Homo Ludens, de Huizinga, Pedras Que Falam de Callois, Em Busca da Excitação de Norbert Elias e Sobre a Individualidade e as Formas Sociais, de George Simmel, obras consideradas essenciais para percebermos os mecanismos que levam o Homem a ser lúdico, a apaixonar-se pelo jogo, sejam jogos de cartas, sejam jogos de poder, seja ainda na sinuosidade do jogo das trocas.
O nefasto e nefando jogo pelo poder no clube de Alvalade obrigou-me a recuar no tempo de forma a avivar-me o vagarosamente lido e discutido com Manuel Gandra, a propósito das cartas de jogar da época de D. João V, sem esquecer as de índole esotérica, lembrando p conto do filósofo cabalista António Telmo, intitulado a Dama de Ouros.
Aquela desagradável e chispante telenovela em cujo guião não falta nada consegue captar a atenção de milhões de pessoas, a ânsia das televisões o comprova, concedendo alacridade à referência hegeliana – ópio para o povo –, que Hegel empregou agregando-a à religião, que relativamente ao desporto-rei a utilizo no sentido de esta modalidade se ter transformado num virulento (vírus) e violento credo gerador de fanáticos e exaltados capazes de agredirem aqueles elevados à condição de demiurgos quando ganham, de seres mimados, mesquinhos e merecedores de castigo quando perdem. O descalabro atingiu-se em Alcochete numa repugnante imitação dos bandos sinistros nazis, fascistas e/ou do Ku-Klux-Klán.
A boa intervenção da GNR teve o condão de puxar a ventania sobre as claques, o resto é conhecido, amainada a tempestade ficaram os destroços iracundos da realidade excitada permitindo o início de um incêndio destruidor dos activos da secular Instituição, corroendo o seu património e afirmação durante anos a fio.
O clube leonino vive num clima de guerra civil, tão feroz quanto possível, devorando o passado repleto de triunfos, hipotecando o futuro no nicho futebolístico, nicho que imita perfeitamente outros onde não há piedade para os vencidos, uma canção mexicana o assinala.
Já não apanhei a era dos cinco violinos, apanhei-os a tocarem ainda, todavia sem a pujança dos tempos da hegemonia ainda «tocavam» muito bem, um deles em duas modalidades, refiro-me a Jesus Correia. Benfiquista desde tamanino admirava a exuberância consignada em apostas pelo sportinguista Toilas (peço desculpa pelo uso da alcunha) sempre aguerrido como se as garras do leão fossem dele. As vitórias dos anos cinquenta geraram adeptos no burgo bragançano caso dos estimados António Garcia e o Fernando Faria (Tozé) este último a receber piadas do tio Sr. Queiroz pacífico fundamentalista da família dos Andrades, entenda-se portistas.
Ensinar que as palavras tal como as pedras após terem sido proferidas (atiradas) não é possível retirá-las disse-o Confúcio, na confusão gangrenada do Sporting têm-se despejado vagões delas, nesta altura é difícil saber quando o caminho fica limpo e capaz de receber os adeptos daquele Clube num clima de paz e concórdia. É pena!
Armando Fernandes
 Apostilha
Pede-me o Sr. Doutor Armando Palavras, para aclarar que a Antologia por ele coordenada e apresentada no decurso do IV Congresso transmontano pretendeu dar a possibilidade de todos quantos se dedicam à escrita debaixo de múltiplas 

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