A opinião de ...

O DESPERTAR DOS MÁGICOS

O circo chegou e, enquanto se monta a tenda, já são visíveis os ensaios dos malabaristas, no terreiro, à vista de todos. Os mágicos aparecerão mais tarde já com o espetáculo a correr, embora não seja difícil prever os números em cartaz e, em muitos dos casos, os truques são conhecidos ou expectáveis. A regra é a mesma de sempre: todos os sonhos são possíveis e para todos há, se não a realização quase imediata, uma promessa futura ou uma explicação (quase) óbvia. Muitos dos novos números são, na verdade, velhos e conhecidos – apenas lhe mudaram o nome. Trata-se, obviamente, do Orçamento de Estado para o próximo ano que é eleitoral, situação de relevo significativo.
 
O Guião é simples embora, reconheça-se, nem sempre de execução fácil:
É preciso, dentro de portas, corporizar e dar sustento a todos os sonhos, cativar todas as ambições, responder a todos os anseios. E, ao mesmo tempo, garantir junto da omnipresente Comissão Europeia que o rumo traçado é o do rigor, competência e intransigência!
Aí está o desfile das estrelas, reais ou inventadas em fato de trabalho ou cobertas com mantos de estrelas de fantasia sem esquecer os pretensos duelos cuidadosamente encenados.
Ao mesmo tempo que resiste às exigências dos sindicatos, o Governo vai anunciando folgas de milhões, para aumentos salariais e, tal como ensaiado em anos anteriores, serão generosamente acrescentadas as verbas contempladas nos orçamentos dos ministérios, institutos e demais departamentos estatais. Haverá, seguramente, algumas dficuldades de execução no primeiro semestre devido a naturais constrangimentos burocráticos, já conhecidos. Milagrosamente haverá um desatar da torneira entre junho e julho... para ser, subitamente, garroteada logo após as eleições, ganhe quem ganhar, porque é necessário apresentar em Bruxelas execuções contidas e contigentadas! O truque é simples: se os interlocutores “exigem” determinado nível de dotações – pois bem, faça-se-lhes a vontade e orçamente-se... mas com rédea curta e controlo apertado no que toca à execução. Tansos foram os anteriores governantes que fizeram cortes e restrições em sede orçamental que é a única que tem verdadeira discussão parlamentar e, por via dela, impacto público generalizado!
Mas a atual oposição não assume posições claras de denúncia provavelmente, enredada no dilema de precisar de desmascarar os truques, para destronar quem os executa, mas não “poder” ir muito longe porque também vive deles. Veja-se o “edificante” caso da anunciada transferência do Infarmed. O PSD, criticando embora o Governo, fê-lo de forma tão suave que parecia saída de um célebre quadro dos Gato Fedorente (“o senhor árbitro andou muito mal”) e, principalmente, fugiu de dizer algo tão simples como isto: o PSD opõe-se (ou não) à transferência anunciada... com receio de perder votos na Invicta!
A mesma oposição critica e vai cavalgar a trapalhada das armas de Tancos mas não acredito que se atreva a questionar o previsível generoso orçamento para as Forças Armadas. Como justificar tanto dinheiro em estruturas militares num país pacífico e amante da paz? E para quê? Supostamente o nosso exército não só está preparado e disposto a defender-nos de qualquer agressão mas também terá capacidade de resgatar, pela força, se necessário qualquer usurpação que potenciais atacantes façam a Portugal e/ou aos portugueses. Como acreditar nessa capacidade se, perante um temeroso ex-militar (é sabido que se assustou com a dimensão mediática do roubo que levara a cabo) ficou de tal forma impotente que a única forma de garantir a segurança das armas (de cujo paradeiro teve conhecimento) foi submeter-se às condições do assaltante e, com ele, encenar e representar uma cena que humilha e ridiculariza toda a estrutura militar!
 
Nota: foi muito notada e comentada a ausência do Ministro da Defesa nas comemorações do 5 de outubro. Não acho. Parece-me natural. Estranho, muito estranho, foi ver ali a elite das forças armadas e, ainda mais, a exibição dos exercícios demonstrativos das capacidades operacionais militares.

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