A opinião de ...

Camilo de Mendonça

Há umas semanas, no início de Maio, em Valpaços, numa sessão no âmbito do Congresso do Azeite em que o auditório municipal, com centenas de pessoas, foi pequeno para nele caberem todos os que queriam assistir, houve dois momentos interessantes e significativos para a história de Trás-os-Montes e de todo o Nordeste.
Um desses momentos foi quando o actual Presidente da CAP, Eng.º Oliveira e Sousa, no seu discurso (o primeiro discurso que fez publicamente desde que eleito para o cargo que agora desempenha), invocou o papel do Eng.º Camilo de Mendonça para a modernização da agricultura de Portugal e, em especial, do Nordeste Trasmontano, há mais de meio século. O outro momento foi no discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em que se referiu ao seu padrinho de baptismo, precisamente o Eng.º Camilo de Mendonça, como um homem adiantado no seu tempo e, por isso, fatalmente atingido pelo que acontece em Portugal aos homens adiantados no seu tempo: incompreendidos em vida apesar de o futuro lhes dar razão.
Estas invocações fizeram a assistência dar salvas de palmas e tomar consciência de que, estando-se a tratar de azeite e a falar de modernização, seria uma omissão grave não haver uma referência e com letra grande a tão grande lutador e arauto da inovação da nossa agricultura, gerador de acções promotoras de criação de riqueza, da melhoria das nossas condições de vida e da fixação de população no nosso território. Homem reconhecido pela sua determinação e acção, com uma obra que se encontrava em execução e que a política de 74 e anos seguintes veio condicionar e interromper, deixou-nos esse exemplo de amor à terra onde nasceu.    
Ao olharmos o nosso passado agrícola e agroalimentar na região, devemos reflectir no que nos ficou desses tempos em que, com os meios de que então se dispunha (exíguos no seu financiamento, nas más condições de comunicação, na falta de informação e formação), como foi possível conceber e executar um trabalho regional com a mobilização de tanta gente e instituições, com tão grande sentido de unidade e complementaridade, dotar o nosso território duma rede de cooperativas, de entrepostos, de locais de produção e experimentação, de infraestruturas de prestação de serviços… É hoje difícil imaginar tudo o que foi feito e como foi feito e de que nos ficou ainda muita coisa – sobretudo a ideia de que é possível fazer-se. A superestrutura conceptual de tudo isso era o Cachão, o Complexo Agro Industrial do Cachão, com a sua Vila Nordeste adjacente.
É impossível voltar atrás e nem hoje o nosso futuro tem como horizonte o mesmo ponto cardeal de há meio século mas temos o dever de entender esse passado precisamente como uma fonte de lições para o que urge como resolução dos problemas que enfrentamos no nosso presente. Aproveitar da experiência feita, sejam os seus sucessos, sejam os insucessos.
Nesta perspectiva, com o lema de Desenvolvimento Regional, Inovação e Empreendedorismo – A Experiência do Complexo Agroindustrial do Cachão, o Eng.º António Menéres Manso escreveu uma significativa obra “Eng.º Camilo de Mendonça e o Desenvolvimento do Nordeste de Portugal” que no próximo dia 9 de Junho irá ser apresentada sob o patrocínio da Câmara Municipal de Alfândega da Fé.
Numa fase em que tanto se escreveu já – mas não o suficiente – sobre o nosso desenvolvimento agrícola e em que tanto de opinião e preconceito se tem sobreposto à análise objectiva dos factos, esta obra de Menéres Manso vem dar o tom para que se possa de novo estudar, com proveito para a decisão de tantos dos nossos investimentos, toda uma época e as ideias de que um tão grande homem foi mentor e executor.
Bem haja o autor!    

Edição
3631

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