A opinião de ...

E Roma foi universal!

Foram dias inesquecíveis... A chegada dos peregrinos. Da Polónia, centenas de milhar. Muitos, de autocarros infindáveis, com a roupa no corpo e sacos camas para dormirem à chuva - e que chuva... Do resto da Europa, imensos, em particular espanhóis, franceses, portugueses. Italianos, um mar, em particular de Bérgamo, Sul e centro-americanos, talvez quase tantos como os europeus não italianos. Mexicanos, uma loucura. Africanos, ultrapassando todas as expectativas e mostrando que é todo um continente que está a crescer em Igreja. A véspera, à noite, foi excepcional. Em vez da vigília em S.Pedro houve uma dúzia ou mais de vigílias, por países, em igrejas dispersas por Roma. Tal como, durante uma semana, estiveram abertas,com música religiosa ambiente e confissões centenas de templos, vários dos quais não conhecia... Formou-se nessa noite de vigílias, um cordão de Fé que atravessou Roma, dos dois lados do Tibre, contagiando mesmo aqueles turistas que ignoravam ou desvalorizavam o grande momento que estava a ser vivido. E, depois, foi o dia 27. Na conjugação de rito solene e simplicidade popular, de presença dos poderes temporais e da colegialidade do Episcopado, de concentração em S.Pedro e de dispersão pelas vias vizinhas e pelas mais afastadas, onde multidões se juntavam em frente de montras para verem, em televisores comuns, a cerimónia. E ainda a precisão cirúrgica da homilia de Francisco - a evocar a coragem, a abertura à Fé e a alegria dos novos Santos.
Com palavras muito directas e cortantes. E com a paciente disponibilidade para cumprimentar toas as autoridades e percorrer, durante bem mais de meia hora, os caminhos que o aproximassem dos peregrinos, mesmo dos mais distantes do centro de S.Pedro. Tudo em espírito de fraternidade universal. Calhou-me estar comprimido entre polacos, mas também centro-africanos, italianos, mexicanos, australianos. Todos desconhecidos, como sucede amiude nestas situações, todos devotos de S.João Paulo II, alguns do tempo e devotos de S.João XXIII, todos chamados ao testemunho de renovada evangelização de Francisco, todos com a certeza de que a vida cristã não começava ali nem lá terminava. Ali, estávamos a celebrar, a pedir força de alma acrescida, a preparar o retorno a cada uma das nossas comunidades, para a faina por continuar. Mas aquele instante era mais do que a noção de História a fazer-se com dois Papas santos e um Papa emérito, reunidos pela inspiração de Francisco. Era um tempo de balanço e de projecto de vida. E uma confirmação - a de que a Igreja que somos se constrói na fraternidade universal, que nasceu da mensagem de Cristo, coroando as prevenções dos profetas que o precederam e anunciaram. No dia seguinte, com a informalidade de quem cura do essencial e não do meramente protocolar, Francisco voltou a celebrar em S. Pedro Praça, para acolher tantos que não haviam cabido a 27. E as peregrinações prosseguiram nas demais Basílicas de Roma, em Assis, um pouco por tudo o que permitia a quem vinha de muito longe - como os meus colegas norte-americanos de albergue, incluindo cardeais e bispos - reter imagens indeléveis e meditar passados memoráveis. E foi assim que eu tive a alegria única de ver canonizados o Papa-ídolo da minha adolescência e o Papa-ídolo da minha idade adulta mais activa e prospectiva. Pela mão daquele que está a acordar muitos espíritos adormecidos para a saga da Fé ao serviço dos que mais sofrem num mundo tão grande e tão injusto... Estou, talvez, a ser excessivo: em rigor, nunca se tratou de ídolos, mas de símbolos impressivos Daquele que dá sentido à nossa vida e santificou as vidas dos novos Santos,novos porque acabados de canonizar, mas novos porque nossos contemporâneos, como que dizendo que a santidade não é realidade pretérita, longínqua, é apelo actual, destes dias, que exige e se enriquece com a afirmação da nossa Fé.!

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