A opinião de ...

Denominador Comum…

Naqueles velhos tempos, lá no longinco Felgueiras de menino e moço, no extinto Externato Infante D. Henrique, propriedade da Família Barros de Moura do saudoso e brilhante deputado Comunista/Socialista, com D. Dulce, matriarca, ao leme, já lá vão sessenta anos, tive os primeiros contactos com a matemática esquisita, com números por cima e por debaixo de um traço, foi-me apresentada a fração, outra forma de dividir as mais diversas contas do mundo numérico. Para baralhar, coisa de sábios, a mistura de algarismos com letras infernizavam os sonos avivando pesadelos notívagos de consequências hidro-dolorosas.
Já crescidote, de pêlo na benta, fui-me afeiçoando ao maravilhoso mundo das incógnitas, às regras de três simples, raízes quadradas, maravilhando-me, ainda hoje, a noção ou falta dele, do conceito de infinito, pois que, para lá dele, outros infinitos até ao infinito se seguirão. Passar da ardósia e seu ponteiro, para a sebenta, lápis e safa, foi pulo que aterrou nas velhas máquinas de calcular, tipo Hewlett-Packard.
Hoje, com ajuda androide de um simples computador de bolso podemos brincar ao faz de conta, armar ao cientista: algures em qualquer avenida poderemos tomar nota dos que passam, por sexo e idade e, após a introdução de um algoritmo, saberemos quantas mulheres, homens e crianças passarão por ali durante um dia, um mês, um ano. Toda aquela gente tem algo em comum, passam por aquela avenida.
Se, imbuídos de espírito investigador, selecionarmos quatro Faculdades de topo, indagarmos a origem de seus alunos, cedo concluiremos o embuste de Abril: é mentira, os estudos não são para todos pois que as incógnitas envolvidas são várias e não uma, as propinas são as de menos valia, o berço e a fortuna ditam muito mais alto. Veremos então, pelo tal algoritmo, que as Faculdades de topo estarão sempre destinadas, aos de sempre, aos donos disto tudo.
Chafurdando, abaixo das poeiras do chão, visitarmos as fábricas, os comércios citadinos, as grandes superfícies, os transportes públicos, o povo que mexe, quase a olho nu e sem necessidade de grandes matemáticas, sentiremos murro no estômago, bem apontado pela consciência que nos julga: aqui, no mundo abaixo da miserável miséria, vivem os que sempre por ali andaram, fadados a nunca passarem das pedras da calçada, são pobres geradores de pobres, consumidores de ordenados mínimos.
Refinando a pesquisa, armados de logaritmos, hiperbólicas, potências elevadas ao cubo, após multiplicar e dividir, vamos analisar os barulhos que nos ensurdecem, as manifestações e contestações dos ausentes ao trabalho, os gráficos cuspidos pelas impressoras ditarão a dança que os une: Bailinho da Madeira entre Sindicatos e Funcionários Públicos, agrupados por Corporações: professores, médicos, enfermeiros, juízes, forças militares e militarizadas. Esquecendo os ultrajados, os que nunca passam das poeiras dos caminhos, exigem mais ordenados e meios. Esta equação, não de incógnitas mas de aviltamento contra os funcionários do privado, erro crasso de cegueira esquerdina, tem as trinta e cinco horas, arrogância e elitismo como Denominador Comum…

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3711

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