A opinião de ...

Entre…

Ente querido, porque cercado pela dor que dói, aconselhada foi a procurar serviço médico especialista, para o efeito colocado ao serviço do povo, em Hospital Publico de Lisboa, o ancião Hospital de S. José, ali para o Martim Moniz, o entalado. A placa, indicativa e que informa, é enigmática, coisas dos antigos, Mesoterapia.
Na altura, perdido na esdruxula semântica, procurei ajuda de esteio, suporte que, entretanto, estrelou os céus dos eternos, meu amado irmão Padre Delfim: - rapaz, que fixaste tu quando, lá para traz, te cruzaste com a História onde os rios Tigre e Eufrates eram senhores de paragens onde a civilização se agigantava?
Recuei nos tempos, regressei ao Colégio João de Deus, entre ruas, a de Santa Catarina e da Alegria, no Porto que muito amo. Sentei-me na carteira em anfiteatro e voltei a ouvir o Professor Faria, doido da bola que, filosofando, explicou detalhadamente a origem da palavra Mesopotâmia, berço da civilização Ocidental, hoje Iraque e Kuwait, bordejando com Turquia-Síria e Irão-Iraque. Pois fiquem sabendo, a origem é grega, Meso quer dizer que o imenso território está no meio de algo, de dois rios.
Fez-se luz, o passado ensinou-me que esta técnica médica consiste em injetar fármaco em espaços meandros de músculos e articulações, entre = meso.
Agora, já sabedor e mestre, regressei à meninice em Felgueiras, ouvi os pregões dos peixeiros: - quem quer sável fresquinho de Entre-os-Rios? Hoje, senhor do meu nariz, tudo me parece fácil, evidente, este Portugal pequenino, berço de todos nós, tem terra Mesopotâmica, bem no meio de dois rios, o Tâmega e o Douro, entre.
Actualmente, encabeçado pelos brancos do ciso, de quem sabe e se dá ao respeito, passeio de novo, recuo quarenta anos no túnel dos tempos, e lá vou eu piolhando ali pelos Leões, contornando a Universidade do Porto, a caminho da Faculdade de Letras, para ouvir aulas de Economia I, pelo Assistente Professor Daniel Bessa.
Na altura, com dois olhos, mas nenhum de rei, sempre vi, lado a lado e coladas, as Igrejas do Carmo e dos Carmelitas Descalços. Esta ilusão de ótica acompanhou-me até hoje.
Foi com agradável surpresa que tropecei em verdade desconhecida, na História que ensina: naqueles tempos de 1600, o Convento dos Carmelitas e sua Igreja, possuía cerca descampada. Em 1736 é fundada a Ordem do Carmo que pretende construir, naquela cerca, seu Templo de culto. O Vaticano, soberano, razão desconhecida, proíbe junção de Igrejas, lado a lado, coladas. Qual Copperfield, o mágico, por obra de engenharia e arquitectura sublime, aí estão as duas Igrejas, do Carmo e Carmelitas, lado a lado, mas cumprindo a imposição de S. Pedro, do Vaticano, não coladas.
Agora, só hoje, utilizando mesmo a função dos olhos, lá está, no meso, uma casa de três pisos, com porta e duas janelas, a mais estreita casa de Portugal, a concorrer para ser a mais fina do mundo. Esta habitação, toda mobilada e equipada, serviu de guarida a médicos, capelões, sacristões e local para reuniões secretas durante as Invasões Francesas e o Cerco do Porto.
Após 250 anos vedada ao publico, está agora em exposição diária esta Relíquia invisível. Se é português dos quatro costados, tripeiro de gema, morcão do norte, vá, Entre…
 

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