Armando Fernandes

 

 

Generais

Demitiram-se dois generais na sequência do roubo de armas em Tancos (localidade vizinha da aldeia rente ao Tejo onde moro), assim ao modo de birra grávida de gongorismo, incluindo um poema. De seguida surgiu na pantalha o comando Tinoco de Faria (conhecido por alguns rapazes do meu tempo) cujas ideias misturavam teias de aranha embrulhadas em confusos panejamentos ideológicos, nos intervalos esparsos clarões de bom senso. Dele foi a lembrança da manifestação das espadas ao modo das fúrias do chanfalho e bota cardada da Iª República.


Com o fogo não se brinca

Naquelas manhãs de cenceno cerrado a minha avó materna pedia-me vigiar as brasas de carvalho, nelas iria ser colocada a grelha destinada a acolher alheiras comidas gulosamente na companhia de centeio e goles de café vindos da cafeteira aconchegada pelo borralho. Só que de vez em quando a minha falta de jeito e a íntima colaboração do gato as brasas espalhavam-se nas pedras lisas do Lar, obrigando a intervenção da dona da casa munida de vassouro e a advertir: com o fogo não se brinca.


O dever de lembrar

A lembrança é figura de estilo quando não cumpre o dever de lembrar. Escrever no Mensageiro obriga-me a quando teço um artigo ou uma crónica nunca por nunca esquecer a sua génese matricial a obrigar-me a mesmo na abordagem de temas leves, até cómicos, a tê-la em conta, sem esquecer os vigamentos que lhe dão sentido e corpo. No entanto, o dever de lembrar é um dever eivado de presunção e, presunção e água benta cada qual toma a que quer refere o anexim.


A Árvore do Pão

No decurso de breves quanto intensas e ridentes palavras trocadas com o Dr. António Rodrigues disse-lhe que este ano o PÃO será o tema principal do Festival Nacional de Gastronomia, a realizar, tal como nas edições anteriores, em Santarém. A robustez e amplitude do tema deu ensejo ao Dr. Rodrigues a oferecer-me o livro A Árvore do Pão, cujo autor é o Bispo de Bragança, Dom José Manuel Cordeiro.
Agradeci a oferta. Posteriormente recebeu a devida atenção.


Manuel Ferreira

Eu não sei se os leitores já leram O Livro das Cidades, do notável escritor cubano Cabrera Infante, o qual pagou duramente ter enfrentado e criticado acidulamente o ditador Fidel Castro. Aquele que gosta de pensar a cidade ganha lendo a estrídula obra do autor de Três Tristes Tigres. Nas minhas vindas a Bragança gosto de perguntar coisas e loisas sobre a amada cidade, sempre, embora nutra afeição e estima por Santarém, Barcelona e Boston. Porém, Bragança é Bragança, sempre.


A filoxera ataca o espírito

Todos sabemos quão perniciosos foram e continuam a ser os efeitos da filoxera nos vinhedos. Vinda dos Estados Unidos propagou-se a todos os continentes causando tremendos prejuízos, levando até à erradicação de vinhas originando miséria, ruínas, emigração e tremendos relatos sobre os seus efeitos aos quais não escapou o Nordeste. Verifique-se a corografia e logo percebemos a amplitude da catástrofe.


Esta pouca cinza fria…

O notável poeta modernista Manuel Bandeira terminou o poema epígrafe do seu livro A Cinza das Horas, escrevendo as palavras a titularem esta crónica. O poeta tem a avarenta sorte de apenas ser lido por muito poucos, mesmo no Brasil, consola-me a certeza de a sua poesia alegrar todos quantos tecem pensamentos relativos à finitude dos dias, a seguir à folia entrudeira por bem duradoura que seja, chega a hora de passarmos à condição de cinza fria.


Falou o Álvaro

O falante é o Senhor Doutor Álvaro dos Santos Pereira, académico da Universidade de Vancouver (cidade entusiasmante), agora director na OCDE, antigo ministro da Economia, o qual ao assumir a pasta ficou conhecido por ter espantado o motorista ao pedir-lhe para simplesmente ser tratado por Álvaro. O pedido dele entrou na categoria de chiste, só os miméticos e desconhecedores dos Padrões de Cultura * em uso na Lusitânia tentaram implantar risonha norma.


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