Ernesto Carolino Gomes

Como é possível?!...

Os últimos tempos têm sido ricos de brutalidades que a comunicação social nos vem fazendo chegar de forma pouco menos (ou pouco mais) do que insensata, fria e crua. O direito à informação não tolera tudo. E até estou certo de que o excesso dela, variada e repetida, gera repetição daquilo que nos transporta. A violência que escancara, ausente de qualquer gesto censório, impulsiona os menos preparados e mais frágeis para a imitação do que lêem e do que vêem em imagens sofregamente marteladas.


Mães, filhos e violência

Do alto da sua ignorância completa na substância em causa, produziu a meritíssima a sua proposição, como se da virtualidade de qualquer dogma se tratasse. Para si, e reproduzi-o já as vezes que o dei por pertinente, os filhos pertencem às mães, por força da mãe natureza. Porventura, daí  a entrega, à mãe e de mão beijada, do poder paternal, que não das responsabilidades parentais, relativamente às crianças. À mãe, farinha do mesmo saco da douta, em termos profissionais, haverá de ter dado jeito que assim fosse, qualquer poder mais bem-vindo que quaisquer responsabilidades.


A violência doméstica e a circunstância

Vício antigo, a comunicação social  escancara as janelas do estrondoso, apimentando-o quanto pode, desprezando, porém e por norma, atitudes pedagógicas concernentes, também minguadas a nível institucional. Seduz o alarido, e não seduz a busca de soluções. Paira como nuvem escura de trovoada a violência doméstica, por vezes observada através de prismas estalados, outras redutor qualquer ensaio analítico tendo-a por objecto. E, entretanto, nada que rasgue a cortina de fundo que nos afasta de uma posição preventiva séria, rigorosa e adequada.


Os antónimos e os antípodas

Diz a gíria popular que a mudança dos tempos arrasta consigo a mudança das vontades e das virtudes. Acrescentarei que se substituem os valores, as atitudes, os comportamentos e as condutas, as normas e as regras, os usos e os costumes, formas de ser, de pensar e de estar. Erradamente, em nome de progressos civilizacionais que, da minha parte, longe de sonhos e utopias, encaro como retrocesso de gravidade maior, perdas irreversíveis para as comunidades e as sociedades. A criança tem razão, porque o rei vai nú.


O juízo dos juizes

Singela a notícia, bem mais que o respectivo conteúdo: inseria o rodapé a passar em programa televisivo que era pedida indemnização à CP e à Refer no valor de mais de dois milhões de euros por morte de juiz. A estupefacção primeira resumia-se à extensão disforme do valor em causa. Motivo: a crença de que o falecido, no seu exercício profissional, jamais decretara reparação igual a beneficiar terceiros. E nenhum juiz, por mais que o possa pretender, é pertença de outro mundo.


Saudades do futuro...

Saudade, eis a palavra portuguesa mais portuguesa das palavras que o nosso vocabulário, tão rico, pode comportar. Todavia, sem tradução. Porque não se diz a saudade; somente se sente e se vive, e os sentimentos não se traduzem nem são passíveis de quantificação. São o que são, e nada mais.


Eu (já) não acredito...

Nunca acreditei no Pai Natal, no seio de uma família onde era festejado o nascimento do Menino Jesus. Era Ele que, naquela noite fria, me trazia, virtualmente, as prendas deixadas à lareira da minha casa, no bucólico da minha aldeia. Prendas singelas, condizentes com a humildade e a pobreza do Menino, porém carregadas de Amor por todas as crianças. Com os tempos, sociedade e cultura trocaram-Lhe as voltas, quando o Pai Natal começou a adquirir em lojas de luxo o que Ele, na Sua condição modesta, não tinha condições de adquirir.


Acerca da criança...

«Obrigamos a criança a transportar o fardo dos seus deveres de homem de amanhã sem lhe conceder os direitos de homem de hoje». Para lá do mais, o que releva da afirmação de Janusz Korczac é a devida consideração da criança na sua condição real de homem. Não de homem em miniatura, esgotado de há muito o conceito do homúnculo, mas de homem em plenitude, pessoa humana no seu todo. Para mim, não unicamente após o nascimento, porém bem antes, à concepção, aqui ganhando, por direito, o estatuto de homem pessoa.


Contraposições & contradições...

Delas decorrentes, sustentam-se os progressos civilizacionais nas diferenças que marcam as diversas culturas, raças, ideologias e crenças, as desiguais formas de ser, pensar e estar de grupos humanos e pessoas individuais. Diferenças, diversidades e desigualdades a respeitar e valorizar, por isso mesmo. O acatamento pacífico das contraposições enfrenta e anula o monoideísmo cinzento e resistente à inovação.


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