Ricardo Mota

Outro Manancial…

Sou um apaixonado pelo antigo, pelos mistérios que escondem, pelos ensinamentos que espreitam, pela História esquecida. Quando em veraneio, quando calcorreio, tudo cativa olhares, perscruto, sondo, fixo, informo-me, passo o tempo comigo e com os outros, fácil e gratuito contentamento.


Lugar de Excelência…

Existem vários sítios de contemplação, de êxtase, onde a natureza esmaga os sentidos, tal a força da largura de vistas, do mistério do cosmos que nos domina. São Leonardo da Galafura em Peso da Régua, Nossa Senhora da Assunção em Vila Flor, Nossa Senhora das Neves no pináculo de Bornes em Alfândega da Fé, Castelo Rodrigo em Figueira de Castelo Rodrigo, Penedo Durão em Freixo de Espada à Cinta são lugares do outro mundo, que busco amiúde quando erro pelo triângulo que me rejuvenesce: Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Alta.


Sufoco…

Sabe sempre bem beber o tempo, degluti-lo saboreando o momento. A idade experiente faz de nós seres de calma, de outros olhares para as realidades. Saber cruzar a informação que nos chega, decifrar as alternativas possíveis, ver para além da emoção, são atributos do meio caminho. Hoje consigo olhar para o passado retirando dele a energia das loucuras felizes, da juventude inesgotável, das paixões que inebriam, das certezas indestrutíveis. Ao mesmo tempo olho para o futuro não com o vislumbre da derrota mas com o desafio da luta, fonte da juventude.


O Predilecto….

Vindo de Alfândega da Fé, descendo a caminho dos Cerejais, chega-se a ela facilmente, sempre em frente. A aldeia é arejada, enxerga-se bem quando no topo do Sardão ali bem perto da Parada. Para trás ficou a nova ponte da Ribeira de Zacarias, em serena curva sobre um fenomenal espelho de água, reflector dos verdes multicores que por aqui habitam. Encravada num morro a que os antigos designaram como Rebentão, vislumbra-se construção de xisto, castanho doirado, o xisto que a natureza espalhou por estas bandas.


O palanque…

Sóbrio, rígido, talhado a cinzel e escopro, sisudo, solitário, anti-social, convencido, inflexível, partidário, eis Cavaco o nosso ex-Presidente da Republica. Segundo os livros de Psicologia/Filosofia dos antigos 6.º e 7.º anos dos Liceus o temperamento de Cavaco oscilaria entre leptosomo e nervoso, mais que discutível pois não sou, com toda a certeza, especialista na matéria. Diziam-nos, naqueles tempos, que não havia como fugir, o destino ou fado tomaria conta de nós, seríamos o que nosso corpo transparecia.


Roído por dentro…

Dizem, quem o conheceu, que o Zé Tolas, o surdo-mudo da aldeia, filho da Tia Beatriz e do Ti Anacleto, seria talvez o rapaz mais esperto da sua criação, naquela aldeia perdida no majestoso e imperial vale da Vilariça, candeia acesa em noites de luar. Segundo contam os que com ele comunicavam, o primeiro e único dia de escola foi o cortar de pernas, o desabar do mundo, o esfumar infantil, o ruir do nascimento, o adeus ao futuro, aos amigos e á aldeia. Meta de partida para isolamento total.


Na voragem dos tempos…

Nunca me importei com o regresso. Regressar sempre foi, para mim, aprazível, descansativo, elixir de paz, busco as memórias quando a vida me foge. Quando numa encruzilhada, lugares do diabo e alminhas, grito pelo passado, tento aprender com o legado dos tempos idos, com os senadores, não de Atenas mas do nosso Coliseu.


Tristeza minha…

A mudança andava no ar, os ventos anunciavam-na, as conversas iam por aí e, a esperança, envergonhada, espreitava nas esquinas, nos becos, vielas e nos conversares entre amigos. Os humores dos que até aqui nos trouxeram, traíram-nos. Cientes do que nos tinham feito, a todos, velhos e novos e que, por isso mesmo, travaram o advir de netos e filhos, futuro de Portugal, tentaram a mudança de agulha.


Equidade…

Pelos jornais, através dos meios de informação, a força das palavras impõe-se, subtilmente. Uma, desde o 25 de Abril, acompanha-nos ao longo da vida. Ficamos a conhece-la há cerca de quarenta anos. Os entendidos traduzem-na, dizem-nos que se trata da justiça moral.


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