Ricardo Mota

Virar de página…

Ali, lá longe, numa das pontas de Portugal, nos sítios onde moram os ventos que nos conhecem, nos lugares onde as poeiras se levantam ao passar das bestas e nos ofuscam os olhares, todos conhecemos os cantares das nossas frescas ribeiras que vagueiam nos sonhos de infância pois que desaparecidas nos meandros dos humores climatéricos.


Virar de página…

Ali, lá longe, numa das pontas de Portugal, nos sítios onde moram os ventos que nos conhecem, nos lugares onde as poeiras se levantam ao passar das bestas e nos ofuscam os olhares, todos conhecemos os cantares das nossas frescas ribeiras que vagueiam nos sonhos de infância pois que desaparecidas nos meandros dos humores climatéricos.


Dois em um. Dois…

 Dois dias após a visita à enorme albufeira gerada pela barragem do Baixo Sabor/montante e ao novo e magestático Santuário de Santo Antão da Barca ali para os lados da Freguesia Parada/Sendim da Ribeira do Concelho de Alfândega da Fé resolvemos passar ao segundo objectivo da viagem. O Mensageiro de Bragança tinha levantado o véu.
Na penumbra da madrugada de um belo dia de Setembro e após um lauto pequeno-almoço em varanda com vistas para os amendoais que descem a partir dos Cerejais, tudo a postos.


Dois em um. Um…

Agosto tinha-nos deixado. Estava decidido, há muito programado, na primeira semana de Setembro seria o reencontro. Lá partimos, uns do Porto e outros de Lisboa, íamos como se fossemos para as Termas, procurávamos a paz de espírito, a junção das forças positivas de cada. Levávamos na bagagem dois destinos, dois locais de contemplação, religiosos e patrimoniais, de duas aldeias transmontanas.


Avançar, Recuando…

Estamos, de novo, na estrada, no caminho. Se este atalho a algum lado nos vai levar, o futuro o dirá. Ninguém terá dúvidas que, entre duas escolhas, dois posicionamentos se perfilam, os do sim e os do não. Democracia é ouvir e ceder no respeito pelo outro. Sabemos, vasculhando no recuo dos tempos, que apenas os Grandes a praticam os que, nas escuras encruzilhadas sem placas de sinalização, sem bússolas, nos insondáveis momentos de solidão, decidem pelo bem maior, por nós, pelas gentes.


Meninos Ladinos…

Lembro-me, todos nos lembramos, da nossa Instrução Primária, do Menino Dono da Bola e do Menino de Dedo no Ar.
As caricaturas, com suporte real, avivam-nos a memória, nos recreios da escola ou na praça do lugar, nos jogos aguerridos do perde e ganha, na eminência da derrota, um jogador perdedor abandona o campo, levando o esférico, blasfemando que no perder não joga, eis o Menino Dono da Bola.


Riscar o Fósforo…

Chegamos ao ponto, talvez, felizmente, de não retorno. Eis-nos, de novo, nos inícios de Abril. Ao longo destes eternos quarenta anos de democracia o mundo girou, as mentalidades arejaram, os trabalhadores produtivos transfiguraram-se, a ciência evolui, Portugal arrancou e os portugueses sonharam.
No entanto, os engulhos levaram-nos ao tropeço, as angustias foram crescendo, as desilusões agigantaram-se, o aviltamento subiu de grau, as forças afrouxaram, os braços caíram e o desânimo arrancou-nos a vontade do rir.


Renascer…

Foi há muito. Nos meus púberes e imberbes dezassete anos, com oxigénio em demasia, de faces rúbeas e de borbulhas em explosão, de confronto com família tradicional, despertei para a cidadania, para a civilidade. Era desafiante encostar à oposição, provocar o regime. Tornei-me panfletário, distribuidor, pela calada da noite, de algo considerado subversivo. Andei nessa.


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