Ricardo Mota

Isto é da Joana…

Vão longe os tempos de menino, tempos de brincares e dos primeiros passos na aprendizagem, no interiorizar de regras rumo à socialização. Após a liberdade total nas vielas da aldeia que o viu nascer, protegido por todos os olhos do lugarejo, feliz no meio dos que o amavam, Manel entrou pelos portões da Escola Primária, sitio onde moravam os medos.


Mar da Palha…

Lá no Porto, debruçado sobre a foz do Douro, vive o sitio por onde deambulei nos tempos da rebeldia, ali muito perto da Cantareira onde Carlos Tê deu asas ao Chico Fininho. Os nevoeiros escondem-se por aqui e o mar, que se espreguiça ali bem perto, ofusca-se e desaparece por dentro dele, mas ronca assustadoramente nas noites de invernia. Um farol, plantado ali bem perto da casa de família, lembra a marinhagem que daqui se agigantou desafiando os Adamastores que se misturavam nas revoltosas ondas que aqui chegam vindas do além.


As Semente do Diabo…

Sobre a História que aí virá vão sendo contadas muitas historinhas, daquelas que embalam. Os contadores, agricultores frustrados, tentam plantar opiniões pessoais, umas vezes ingénuas outras propositadas, convencidos que daquele arbusto brotarão Factos Históricos.
Nos longincos anos de 85/95, no Portugal daqueles tempos, tomou o poder um novo Senhor Feudal. O povo, agradecido, farto das desavenças esquerdinas em que cada cabeça sua sentença, vira-se para a sereia, a do melodioso canto, a direita que cumpre.


Os TRUMPEN…

Lá no tempo dos extremos, cabeça e pés, o mundo girou, deu a volta, os polos revoltaram-se, o eixo desposicionou-se. A moçarada pôs cabelos ao vento, a guedelha trunfou-se e descaiu ao encontro dos ombros e, lá no fundo, abafando os sapatos, os sinos instalaram-se nas bocas das calças varrendo o chão que pisávamos. Nossos pais, coitados dos nossos pais, ficaram com os cabelos em pé e seus pés perderam forças, fraquejaram face à incompreensão do arrojo.


Ponto-Morto…

Nos meus felizes anos, na infantil meninice, ali pela instrução primária, no Felgueiras que me viu nascer com a imponente bênção do Monte de Santa Quitéria, o mundo sorria pois que me sentia livre como os pássaros, a vida era risonha e airada.


Desmontaram os Matraquilhos….

Lá muito para trás, rapazola, há cerca de 48 anos, vivia ali para os lados de Campanhã, Bonfim. Dividia os tempos entre o Colégio João de Deus, a casa e o Capa Negra I, ponto de encontro para grandes jogatinas de matraquilhos. Lá na cave, escondidos de todos mas no quente das amizades, trocávamos humores, risos, iras, glórias e frustrações. Sim, a adrenalina subia às faces misturando suores e rubores, pagava-se perdendo. Aqueles pequenos bonecos, hirtos e metálicos, fixos, submissos à destreza intelectual e reflexiva do mandante, obedeciam sempre ao comando e, por isso, viciavam.


Vacas Sagradas…

Daqui, numa manhã enevoada em Trás-os-Montes, perante um verde viçoso e pujante que inebria, aconchegado no lar, vislumbrando através de janela solarenga, contemplo o que a natureza me oferece neste dia de Natal. Estar vivo é uma bênção, gozar o ambiente é sublimação.


Maldito Fosso

 
Sem dúvida alguma que o 25 de Abril avança coxo, com fragilidade no caminhar. Vai longe o sonho, a minha Universidade no querido Porto, lá no topo da Cordoaria, mesmo ao lado dos Clérigos, foi testemunha, escondeu-nos muitas vezes dos atropelos, das investidas, da irracionalidade dum regime moribundo.


A Grande Trapaça…

 
De sempre, o embuste existe. Enganar, ludibriar, passar a perna, comercializar, foi e é sinónimo de esperteza, de deixar para trás alguém, levar avanço.
Num frente a frente perde o escorreito, o bem formado, o moralmente inatacável, o vertical. Lá, na época dos tombos, do cai e levanta, da lágrima e do choro, das birras, na infância dos nossos tempos, há que preparar os meninos para o que aí virá. Hoje não é fácil ser gente.


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