A opinião de ...

Descobre-te a ti mesmo!...

Muito se escreve e fala sobre a vida prisional e os objetivos que a execução das penas e medidas privativas de liberdade implicam. É certo que se trata de um assunto muito complexo, mas, nem por isso foi, ainda, conseguido o resultado mais desejado, ou ajustado. Com efeito, ao longo dos tempos, também os conceitos e aplicação prática dos mesmos foram evoluindo e, atualmente, o tratamento penitenciário é bem diferente, para melhor, do que era em tempos não muito distantes.
Além de terem, por exemplo, caído em desuso as palavras “cárcere” ou “encarcerado”, com a carga negativa inerente, a intervenção reeducativa e formativa nos meios prisionais é já realizada de uma forma sustentada em ações transversais com vista à reabilitação possível dos reclusos. Naturalmente que há, ainda, muito para fazer neste domínio, como há em muitos setores da sociedade.
Nas nossas cadeias já se trabalha de uma forma organizada e com objetivos reabilitativos muito específicos e dirigidos. Atrevo-me mesmo a dizer que, no meio prisional, onde vão parar pessoas que já estão em “fim de linha”, se trabalha com afinco e determinação na educação e reabilitação, com surpreendentes resultados, tantas vezes desconhecidos. Um dos aspetos mais importantes no âmbito da execução das penas é a aprendizagem da interiorização, da reflexão e do auto-conhecimento, que potencia a construção da auto-estima e a sua importância da reinserção familiar, social e laboral. E aqui, também o conhecimento e prática da Doutrina e o experienciar a Fé podem ter um relevante papel formativo no sentido de restaurar a confiança e a segurança interior.
Sendo certo que a Igreja Católica, como outras Igrejas/religiões, realizam uma missão importante neste domínio, não posso deixar, neste contexto de salientar o que, recentemente, aconteceu no Estabelecimento Prisional de Bragança, deixando aqui, nesse contexto, parte de um artigo de opinião, publicado pelo Correio da Manhã, no dia 16/09/2016, assinado pelo respetivo Capelão, Padre Fernando Calado Rodrigues, promotor da iniciativa.
“Não falta quem pense que tudo o que se faz com os reclusos é tempo perdido. Todavia, continua a haver quem acredite que o tempo de reclusão pode transformar-se numa oportunidade de conversão. 
Hoje, na cadeia de Bragança, conclui-se uma sessão da Novahumanitas, denominada “Descobre-te a ti mesmo…” Esta formação pretende ajudar cada participante “a iniciar um processo de autoconhecimento e de crescimento pessoal que o conduza a uma maior liberdade e plenitude de vida”. É a primeira vez que é ministrada em contexto prisional. Ao longo de quatro dias, guiados por Maria dos Anjos, com os seus “78 anos de juventude acumulada”, homens amargurados e angustiados fizeram a experiência de, talvez pela primeira vez, entrar em si mesmos. Descobriram que, para além dos seus defeitos e falhas, também são habitados por valores e potencialidades. Sentiram o desejo de mudar as suas vidas. Oxalá o consigam, para que também eles se convertam em testemunhas de que, apesar de tudo o que se possa ter feito, é sempre possível mudar de vida!”

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3596

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