Ernesto Rodrigues

Edição crítica de Os Lusíadas

Dedico o meu 10 de Junho a Luís de Camões, Os Lusíadas, edição crítica da princeps, por Rita Marnoto (Genève, 2022). O volume II reproduz o Poema a partir de 17 exemplares de 1572. Encerra com aparato crítico e bibliografia. Na língua do tempo, a leitura pede alguma demora e, para esclarecimento de dúvidas vocabulares, mitológicas, etc., convém ter ao lado uma boa edição escolar.


Liliputinar

Não devemos ter medo das palavras: Putin começou simpático e acabou ditador. Assim posso resumir conversa de há dias com o embaixador João Diogo Nunes Barata, que nos representou em Moscovo entre 2002 e 2004.
Putin é um ressabiado: acaba o curso de Direito na cidade natal, São Petersburgo, e entra no KGB, cujos herdeiros dominam, hoje, a Federação Russa. Os chefes não lhe reconhecem grandes qualidades, sendo destinado, pois, à tranquila Dresden, na República Democrática Alemã. Um espião de primeira viria para o Ocidente.


O poeta João Rodrigo

O final de 2022 fechou os olhos a figuras ilustres – o Papa emérito, Pelé –, mas, dias após um funeral de que soube pelo Carlos Pires, sofremos por João Rodrigo, recordado em velhas cumplicidades nascidas no Mensageiro de Bragança (MB).
Não verifico agora, na emoção do momento, o que sobre ele escrevi no semanário Tempo (Lisboa), em 25 de Janeiro de 1979. O artigo intitulava-se “Liberdade: a cor do homem”, e nesse tom o vejo, no dizer libérrimo, antes e após Abril de 1974.


Teatro, arte da respiração

No ano em que me estreei em livro (Inconvencional, poesia, 1973), escrevi a primeira de onze peças, agora reunidas em Teatro (Lisboa, Edição do Autor, 2021, 572 páginas). Era o sonho de uma arte participada por todos, como se exigia para uma diferente respiração nacional, politicamente moribunda. A Pedra metaforizava a opressão desse tempo, na figura de polícia que vem prender jovem universitário rebelde, escrevendo peça com o mesmo título, enquanto pai emigrante sufoca, sem perspectivas de amanhã, sob o cinismo do regime.


Um inédito de A. Feijó dirigido à Guilhermina de João Sarmento Pimentel

A principal correspondência de António Feijó (Ponte de Lima, 1859), nosso embaixador em Estocolmo, onde morre (1917), em posse do escritor montalegrense José Dias Baptista é dirigida ao conselheiro dr. António de Barbosa Mendonça, Casa de Rande, Longra, Felgueiras. O nome próprio é mais extenso (dedicatário em versos de Feijó, inscreve segunda preposição: António de Barbosa de Mendonça), e assim a sua intervenção cívica, sobrevindo (1938) ao amigo e à filha Maria Guilhermina de Barbosa Mendonça (1889-1912), a qual tem devoção popular nas redondezas.


Casa da democracia

Manhã ou meia tarde pede este inesperado Sem Papas na Língua (Livros Horizonte, 205 p.), de Zé de Bragança, alter ego de José Luís Seixas, político, autarca e conselheiro presidencial, que não deixou de ser advogado e, desde o início do milénio, se revelou cronista de mão cheia. Mais: alguém que, em textos breves e com despacho estilístico e irónico, radiografa os principais sectores da vida social e política. Se fôssemos país habituado a reflectir sobre passos dados e protagonistas de quinta categoria, melhorávamos esta democracia – de pacotilha, tantas vezes.


A Morte de Germano Trancoso

No Verão de 1968, intervalando longas férias com um retiro no Seminário de Vinhais, José Mário Leite e eu ganhámos um concurso literário – ele, com o melhor texto do primeiro ano; eu, com o melhor contarelo do segundo ano (ainda me lembro do péssimo título: “Passeio matutino”), gloríola com que passei ao Seminário Maior. Conhecemo-nos há 49 anos.


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