A opinião de ...

Igreja de São Justo, Calvelhe. Uma aldeia, três “castelos” e uma luminosa Igreja!

Aldeia situada no extremo Sul do concelho de Bragança, pertence à União das Juntas de Freguesia de Izeda, Calvelhe e Paradinha Nova, que inclui ainda Paradinha Velha. Foi sede de concelho até 1836, quando passou a freguesia do concelho de Izeda.

Com a extinção deste em 1855, passa a freguesia do concelho de Bragança. Na sua heráldica constam três castelos, em alusão a três castros da Idade do Ferro: Sanguinho, Mouros e Reta Formosa. De traçado longitudinal e simples como muitas das igrejas de aldeia do Nordeste Transmontano, a paroquial de Calvelhe data de 1694, conforme inscrição no dintel do portal principal. Tinha por cura o reitor de Izeda e pertencia ao arciprestado de Lampaças. Além do altar-mor, a nave continha os altares de Nossa Senhora (da Conceição?) no lado do evangelho e, no da epístola, do Santo Cristo e do Menino Jesus, este no arco triunfal, com confraria de 250 irmãos. O conjunto interior sofreu restauros em 1824, 1953 e 2008-2010, apresentando uma claridade e vivacidade de cores a remeter para o original [AAVV, História e Memória de Calvelhe, 2019]. Com coro-alto e entrada de luz por óculo afunilado no frontispício, púlpito, compartimento de batistério, vão moldurado com o Senhor dos Passos e pequeno nicho de arco lobulado com imagem de Santo Estêvão, a diversidade do corpo da Igreja apresenta ainda cinco altares, todos com mesa em forma de urna. O do lado do evangelho, consagrado a Nossa Senhora de Fátima, tem retábulo simples definido por colunas de fuste liso decoradas a dourado com motivos florais, encimado por espaldar com coroa régia e cruz da Ordem de Malta e cartela concheada. Do lado da epístola, o altar de Nossa Senhora das Graças, pintado a branco, é tão singelo quão estético. De três eixos definidos por pilastras aparentes com frisos verticais castanho alaranjado, expõe bonita imagem com os atributos característicos: resplendor com 12 estrelas, o Imaculado Coração de Maria, os braços estendidos e as mãos abertas de onde irradiam feixes, o pé a esmagar a astuta serpente, negando a tentação do fruto proibido. Nos nichos laterais sobre peanha estão pequenas imagens de São José e do Menino Jesus, encimados por dossel.

O retábulo é percorrido por cornija ondulada com quatro pináculos florais, interrompida pelo dintel do nicho, coroado por cartela de motivos vegetalistas. O Altar do Divino Senhor é em vão embutido na parede, de moldura decorada a dourado e dintel arqueado, com pintura interior alusiva ao Calvário. Dispõe as imagens de vestir de boa dimensão da Virgem Maria e do Apóstolo São João a ladear Jesus Crucificado. O conjunto retabular no arco triunfal é tardo barroco decorado com putti, alguns com viola, figuras angélicas vestidas, pâmpanos, acantos e fénices. Os altares colaterais, de colunas salomónicas, são dedicados a Santa Teresinha de Jesus, no lado do evangelho, e ao Sagrado Coração de Jesus, no da epístola, encimados respetivamente por brasão com flores e Rosário e coração flamejante. Lateralmente estão pinturas emolduradas com a Virgem Maria e o Menino Jesus. No teto, referência para 18 pinturas apaineladas encenando os mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos do Santo Rosário, com inclusão do Deus da Trindade, Santa Bárbara e Santa Luzia. A capela-mor, de teto em berço pintado a floreados e Escudo de Armas do Reino de Portugal, do Brasil e dos Algarves assumido em 1816, exibe um clássico altar rocaille. De três eixos e policromado, é enquadrado por duas colunas balaustradas. Ao centro abre-se tribuna com moldura recortada e bilobulada.

Sobre trono de tripla plataforma, expõe-se o Orago São Justo/Justa, de feições femininas, palma do martírio na mão direita e Sagrado Escritura na esquerda. Os eixos laterais, com as imagens de São Sebastião e São Faustino, são definidos por colunas de fuste com caneluras, aneladas nas extremidades e de capitel coríntio aparente, unidas por cornija às de balaustrada. O bordo do ático é percorrido por cornija dentada interrompida por arco lobulado. Nas paredes da capela-mor estão imagens de São Brás, no evangelho, e Santo António, na epístola, por onde se acede à sacristia. Calvelhe tem na sua Igreja residência segura, templo e fortaleza de fé!

 

Interior da Igreja S. Justo

Brasão Calvelhe

Edição
3976

Assinaturas MDB