José Mário Leite

Estabilidade

A estabilidade governativa é, queira-se ou não, um benefício para Portugal. Nos que a defendem nunca a vi condicionar a qualquer cor política ou partidária. É-o e deve ser defendida quer se esteja no governo (e aí não tenho dúvidas sobre a genuinidade da sua defesa) quer se esteja na oposição (e, neste caso, não basta afirmá-lo se a prática não o confirmar). E isto nada tem a ver com o exercício legítimo e salutar da oposição forte, fiscalizadora, atenta, exigente e mesmo dura, porque não? Mas nenhum destes temas deve ser, quer na forma, quer no conteúdo, um atentado à estabilidade.


QUE SE LIXE

Quando em Julho de 2012 Pedro Passos Coelho reiterava perante os deputados social-democratas  que as vitórias eleitorais seriam sempre uma meta secundária perante o verdadeiro objetivo principal: o país que tinha de ser salvo quer do atoleiro em que se encontrava na altra, quer do garrote sufocante que a troica lhe aplicava implacávelmente, muita gente viu nessa afirmação, mero marketing político.  Outros acreditaram piamente na genuinidade e sinceridade de tal confidência, por razões várias e entendíveis mas que não vale a pena estar aqui a enumerar e muito menos escalpelizar.


POUCOCHINHO

António Costa apeou António José Seguro por este ter ganho por poucochinho, nas anteriores eleições. “Quem ganha por poucochinho, faz poucochinho” disse e repetiu enfaticamento o ex-presidente da Câmara de Lisboa. O resultado do PS, se não fosse, como foi, uma derrota, seria uma vitória ainda mais escassa que a obtida para as europeias. E seria poucochinho o que o novo Primeiro Ministro socialista poderia fazer.


JOSÉ SÓCRATES Da convicção à (in)certeza

Quando o antigo líder do PS foi preso e acusado, pensei seriamente que ele seria culpado. Eu e a maioria dos que assistiram, atónitos, à detenção, quase em direto, do ex-primeiro ministro. Não passaria pela cabeça de ninguém que o Ministério Público promovesse uma ação daquela envergadura e repercussão sem ter razões sólidas e muitíssimo bem fundadas. A minha indignação deveu-se ao modo humilhante com que o assunto foi tratado, mas imputei o exagero à comunicação social ávida de notícias e fenómenos bombásticos que lhe garantam venda de papel e suporte adequado de audiências.


RAVENA E O MOTOR MONOFÁSICO

 
Numa das suas ficções, Jorge Luis Borges fala-nos de Droctulf, um guerreiro lombardo que participou na invasão de Ravena, integrado no exército germânico. O bárbaro, depois de arrasar várias povoações italianas ao transpor as muralhas da cidade deslumbrou-se de tal forma com a beleza do que viu e contemplou que mudou de “trincheira” e morreu a defendê-la dos que com ele inicialmente a atacaram.
Tal como os cavaleiros mongóis que acabaram por envelhecer nas cidades chinesas que pretendiam destruir para que nelas fosse feita uma gigantesca área de pastoreio.


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