A opinião de ...

Palestina Judaico-Árabe: Terra Prometida, Terra Traída!

A 7 de outubro de 2023, o grupo terrorista Hamas, responsável eleito pela governação da Faixa de Gaza, lançou um ataque sem precedentes em território de Israel e chacinou, com requintes de selvajaria, cerca de 1400 pessoas e cativaram perto de 250 reféns. Seres humanos de cerca de 20 nacionalidades, sobretudo israelitas judeus e árabes, homens e mulheres, crianças, jovens e idosos. Os ataques incidiram nas localidades de Sderot, Beeri, Reim, Ofakim e Magen, acometendo os Kibutz, um concerto musical e arruamentos. Apanhadas de surpresa!, as Forças de Defesa de Israel retaliam ao genocídio com uma campanha militar em Gaza sem contemplações. Entretanto, a organização terrorista Hezbollah ameaça Israel a Norte a partir do Líbano, o Irão, apoiante das duas organizações, «afia os dentes», os Estados Árabes acompanham, expectantes, a situação, os EUA monitorizam o xadrez regional pra evitar a escalada do conflito, a União Europeia pronuncia-se de forma contraditória a várias vozes, a ONU, por inépcia de retórica do Secretário-Geral, é uma «carta fora do baralho» e as opiniões de rua, a começar na Europeia, manifestam-se contra … Israel.
Onde está a génese deste status belli sem quartel, mecha que arde continuadamente há décadas? Damos a resposta, sem hesitações: Tratado de Versalhes de 1919 e as tomadas de decisão do Reino Unido (RU). Vencedor da I Guerra Mundial (1914-1918), a par da França e dos EUA, contra os impérios da Alemanha, Áustria-Hungria e Turco, traíram a confiança de Judeus e Árabes de uma pátria para os dois povos na Palestina.
Passamos a explicar. No contexto dessa Guerra, o RU necessitava das divisas e capacidade empreendedora dos judeus, espalhados pelo mundo, para combater a Alemanha na Europa, prometendo a Chaim Weizmann a criação de um Estado Judaico na Palestina (Declaração de Balfour, 1917). Paralelamente, incentivou os Hachemitas de Hussein Bin Ali, Xarife de Meca e rei de Hejaz (Arábia Saudita), a combaterem os turcos, dominadores da arábia desde o século XIII, com a promessa de constituição de um grande Estado Árabe. É o contexto da «Grande Revolta Árabe» capitaneada pelo príncipe Faisal, filho de Hussein, acompanhado do britânico T. E. Lawrence, com a promessa de ser rei da Grande Síria, que abrangia o Líbano e o Iraque. Terminada a guerra, Weizmann e Faisal acertaram um acordo escrito de constituição de um Estado Judaico na Palestina, em comunhão dos povos judeu e árabe, enquanto Faisal se instalaria no leme da Grande Síria com apoio judaico. Porém, a palavra dada pelo RU durante a guerra não foi honrada na Conferência de Paz de Versalhes. Na verdade, tinha acertado secretamente com a França (Acordo Sykes-Pivot), também durante a guerra, em 1916, a partilha do Médio Oriente entre si. O derrotado império turco foi assim retalhado a régua e esquadro sem respeito pela geografia e a especificidade dos povos árabes, criando-se os denominados Mandatos Franco-Britânicos: Palestina, Transjordânia e Iraque sob controlo britânico; Síria e Líbano francês. Desta forma se ignorou um acordo histórico entre judeus e árabes, em nome do controlo do Suez, fluidez comercial com a Índia a partir do Mediterrâneo Oriental, construção de oleoduto do Iraque à baía de Haifa e usufruto das divisas sírio-libanesas.
Os franceses anularam pela força das armas (combate de Maysalun, 1920) o sonho de Faisal na Síria, remetido a contragosto como rei para o Iraque, Weizmann ficou «de mãos vazias» e Hussein retaliou com o eclodir do nacionalismo árabe contra o colonialismo europeu. Na Palestina, o RU elencou nova promessa de um lar nacional judaico, incluindo a população árabe, não ignorando o seu apoio aos turcos durante a guerra. Na verdade, os britânicos preocuparam-se sobretudo com os próprios interesses. A partir daqui, com sonhos destruídos, promessas traídas e um futuro ilusório, sobreveio o antagonismo entre judeus e árabes e a luta por uma terra sob tutela britânica em crescendo de violência. O 2.º ato emergirá em 1948, após a II Guerra Mundial!

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