A opinião de ...

Palestina – Partilha Armadilhada!

Em artigo anterior, percebemos como o Reino Unido (RU) frustrou no pós I Guerra Mundial a aspiração Judaico-Árabe de criação de uma pátria conjunta na Palestina, assumindo a tutela do território sob mandato da Sociedade das Nações (precursora da ONU). Mandato destinado a promover um «lar nacional judaico» sem ignorar os direitos do povo árabe. Na verdade, o RU preocupou-se sobretudo em preservar os interesses próprios imperiais-comerciais, suscitando a hostilidade dos dois povos, acicatando a rivalidade entre eles! Terra prometida, Terra traída! No período entre guerras (1918-1939), o movimento mundial sionista propugna o nacionalismo judaico na Palestina, que cresce de uma cifra pouco superior a 50.000 para meio milhão de residentes. Empenhados no controlo e trabalho agrícola da terra, com a criação das cooperativas Kibbutz, detendo um nível de instrução avançado e a organização de uma componente de defesa, os judeus, minoritários, foram-se impondo. O que acicatou a oposição árabe à imigração judaica e a mudança de paradigma da tutela britânica, centrada na proteção daqueles contra os judeus.
Até que deflagrou a II Guerra Mundial e com ela o extermínio de seis milhões de judeus pela Alemanha Hitleriana nos campos de concentração. O Holocausto e a errância dos sobreviventes a seguir à guerra impunham definir um território que os albergasse, que para os líderes do movimento sionista seria a Palestina: David Ben-Gurion proclamava então que «Foram os judeus que criaram a Palestina e a Palestina que criou os judeus» e Nahum Goldman alertou «Se houvesse um Estado Judaico quando Hitler chegou ao poder esse Estado teria aberto os seus portões a todos os judeus que se quisessem salvar». Ou seja, a Palestina era entendida de direito judaico e a sua imigração europeia devia ter via aberta. Porém, os árabes negavam-se a ceder o território tido como seu, os britânicos opunham-se ao fluxo migratório e os cerca de cinco milhões de judeus nos EUA iniciaram campanhas de sensibilização junto da Administração Truman. Entre a irredutibilidade britânica e a compreensão americana, emerge Stalin, apostado em quebrar a aliança entre aqueles e a intrometer-se nos assuntos do Médio Oriente. Assim, permitiu a abertura das fronteiras da Polónia, Bulgária, Roménia e Polónia aos judeus que pretendessem imigrar para a Palestina. O resultado foi um fluxo de cerca de 250.000 em direcção à Palestina, que obrigou as autoridades britânicas a confiscar navios, barrar pessoas e até a acantoná-las em campos de detenção. O território tornava-se um barril de pólvora, com o desenvolvimento de ações terroristas de judeus contra o poder de tutela e a conflitualidade entre judeus e árabes.
Perspicaz, Ben-Gurion passa da exigência da Palestina para os judeus para a partilha em dois Estados. Face à aceitabilidade de Washington e anuência de Moscovo, a impotência de Londres e a oposição árabe, o assunto transita para a recém-criada ONU. É, então, enviado como emissário à Palestina o sueco Emile Sandström para estudar in loco o assunto. Ignorado pela intransigência árabe, em quem observou pobreza, inação e atraso, recebido efusivamente por judeus, onde percebeu uma dinâmica empreendedora, e observada a omnipresente repressão policial britânica, deu opinião favorável à divisão do território, com Jerusalém como zona internacional. Então, a 29 de novembro de 1947 a votação na Assembleia-Geral da ONU resulta favorável à criação dos dois Estados: 33 Votos a favor, 13 contra e 10 abstenções (Resolução 181).
À euforia israelita de se poder instalar, quase 2.000 anos depois, no território, a frustração árabe teve eco nas palavras de Amin Al Hussaini, que proclamou: «Lutaremos, combateremos contra a divisão do país. Não aceitaremos nenhum compromisso». Tudo iria irromper numa espiral de violência logo que o último militar britânico retirasse e David Ben-Gurion proclamasse a criação do Estado de Israel. O 14 de maio de 1948 marca o início da terra sangrenta.

Edição
3962

Assinaturas MDB