A opinião de ...

As cidades médias e os problemas emergentes

Muito se tem falado, parecendo mesmo um tema da moda, do despovoamento das zonas rurais do Interior do nosso País e as suas implicações e consequências negativas que dele resultam.
Este fenómeno que parece não só assolar o nosso Pais, ou o país vizinho, mas inclusive a maior parte das zonas rurais da Europa, merece, especialmente por estes dias em que se debatem os Planos e Orçamentos, quer nacional quer autárquicos, que nestes documentos se façam reflitir estratégias e a congregação de meios e recursos para o resolver.
A própria União Europeia já assumiu este problema, enfrentando-o como um dos grandes desafios aos europeus e às instituições europeias, para o qual vem destinando importantes verbas de investimento e de coesão social.
É que segundo dados do Eurostat (https://ec.europa.eu/eurostat/web/products-eurostat-news/w/ddn-20230117…), sendo 45% do território da União Europeia área rural, só 21% da população europeia vive nela. Esta é também a área onde a população é mais envelhecida e está a aumentar cada vez mais, mas onde também se reflete a maior perda de população!
São os encerramentos das Escolas, a perda dos pequenos negócios ou dos seus motores económicos, o encerramento de serviços públicos, a falta de investimento público, entre outras, as causas apontadas para este estado de coisas.
Não é de estranhar que as pessoas, cada um de nós, que tendo uma dimensão social que nos impele ao contato com o outro, à socialização e à colaboração, não vendo satisfeita esta necessidade, procuremos outros territórios mais densamente povoados.
Como podem os mais jovens satisfazer os seus sonhos e anseios se “aqui não se passa nada”, sendo que por isso se vão embora à procura de uma vida melhor, não bastando o sentimento de pertença e questões emocionais para os demover.
Como pode uma criança brincar quando não há outras crianças?
Estes problemas têm-se convertido em problemas emergentes nos tempos atuais pelo que, mais do que falar deles como uma moda, importa enfrentá-los, tendo presente todos os dados e heterogeneidades, pois o mundo rural não perdeu de modo algum a sua importância. Mais a mais quando se fala tanto de alterações climáticas e de salvaguarda da nossa Casa-comum.
Urge dar meios e competências à rede de cidades médias existente no Interior do país, como Bragança, que pode funcionar como interconexão e motor para não só manter como captar inclusivamente população.
Importa promover o aumento das Denominações de Origem Protegida, incentivar o turismo rural e ambiental sustentável, apoiar a apicultura, a produção animal, a agricultura, favorecer o escoamento de produtos, investir na educação e formação em correlação com as necessidades tecnológicas e sociais, estimular o espírito empreendedor e a criatividade empresarial, etc.
Não é possível que o mundo se encontre equilibrado quando, como prevê a ONU, em 2050, 68% da população viva em cidades!
Não abandonar as áreas rurais é uma questão de justiça, de equidade, mas também de interesse coletivo para todos em relação ao nosso futuro.

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