A opinião de ...

Depois volte cá

“Faça esta medicação e depois volte cá para vermos se está melhor ou é preciso experimentar outro tratamento!”. Quem nunca ouviu isto do seu Médico de Família ou até do Especialista? Mais constrangedor e até dramático foi o relato de um amigo meu a quem lhe morreu, recentemente, uma filha, ainda nova, com um cancro: “O que mais me doeu foi, já no final, ver, o grande sofrimento dela e os médicos a mudarem de terapia, sem resultados visíveis, como se não soubessem ao certo qual o melhor tratamento”.
E não sabiam mesmo! E isso não quer dizer, de forma nenhuma, que os médicos são ignorantes nem tão pouco que não estejam a seguir as normas das melhores práticas recomendadas. Apesar dos enormes progressos na investigação clínica e na medicina, a atividade médica continua (e continuará, provavelmente) em algumas situações mais complexas num estádio experimental. Só a experiência poderá dizer, em concreto, qual das terapias alternativas é a mais indicada para cada caso. E, na maioria dos casos, esta experimentação, terá de ser feita no próprio doente.
Abriu-se, recentemente, um raio de esperança que facilite estas situações complexas e dolorosas: a possibilidade de aplicar, os tratamentos alternativos, todos ao mesmo tempo, em tecidos humanos do próprio doente, em laboratório, em linhas distintas usando as células atingidas pela enfermidade. É porém um processo complexo, caro e, sobretudo, exigente ao nível da infra-estrutura (a recolha e manipulação das amostras tem de ser feita em salas de elevado grau de esterilização) do equipamento e do conhecimento técnico dos operadores que vão auxiliar os médicos. E este último escasseia. Porque é tão especializado que, cada vez mais, só se adquire ao nível do doutoramento.
Quem nunca ouviu noticiar que, em determinada unidade clínica, do SNS existia um equipamento pronto mas sem estar a ser operado? Deve colocar-se a pergunta: alguém, no seu perfeito juízo decidiria um investimento elevado em algo que seria de grande utilidade para o deixar encaixotado ou já instalado, sem o usar? Se não é utilizado, provavelmente a razão deve prender-se com a dificuldade em ter quem o opere adequadamente.
Daí a importância da formação pós-graduada em Ciências Médicas. Que, depois de aprovado o respectivo diploma na Assembleia da República, pode ser feita no nosso IPB.
Não é fácil entender que quem devendo apoiar ativamente este objectivo, em nome das populações que representa (para isso foi eleito), não o faça. Sobretudo quem, quando na oposição e sendo apenas aspirante ao lugar que agora ocupa, organizava manifestações de protesto perante o titular de então, que pouco nada podia fazer, agora que o seu apoio pode ser útil, ignora e desvaloriza os benefícios para a população, que então reclamava como importantes e urgentes. Infelizmente há quem o siga, na indiferença e no afastamento do que pode ser um dos maiores e mais importantes projetos da região.
Felizmente há, entre os seus pares, quem pense exactamente ao contrário.

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