A opinião de ...

O inefável bem

Após o conforto de alguns momentos no meu sofá, (o melhor observatório que me proporciona visualizar bem a televisão, onde recolho a informação mais recente e adequada ao meu sentir), muito me apraz chegar à conclusão de que quem nos governa ou se acha capaz de nos governar, todos querem o nosso bem. E eu fico muito satisfeito por ser um dos muitos beneficiários de tanta consideração.

Na verdade, não há nenhum partido que me queira mal – o que eu agradeço.

Para elencar os benefícios que nos são disponibilizados, teria de me sujeitar a horas e horas de escrita – o que eu não quero nem poderia fazer. Basta-me, pois, apontar alguns exemplos para os quais os partidos convergem.

Começarei pelos salários. Pelos salários, porque são eles que vão condicionar tudo o resto. E é aqui que, num qualquer momento fatídico, as decisões do bem que me é devido, empancam de forma indelével!

Vem depois a habitação, a alimentação, a saúde, os transportes, a educação, as férias e o entretenimento... isto para a generalidade dos cidadãos, nos quais, naturalmente, eu me incluo.

Contudo, desde a habitação até ao entretenimento, passando pela saúde e outros bens, todos eles, no tal momento fatídico, como acontece com os salários, empancam de forma indelével! Por que será?

Sabemos que, felizmente, vivemos numa democracia. Uma democracia em que cada um dos partidos tem voz e por ela expressa as suas opiniões, tal como, em qualquer democracia é lícito fazer. E agora pergunto: por que razão as boas decisões relativamente aos governados demoram tanto a ser aplicadas? E, mesmo demorando muito, não são agradáveis a todos eles?

Sendo também eu um democrata incondicional, poderei dar a conhecer a minha opinião sobre tão relevante matéria que afeta milhões de portugueses. E acho que isto até constitui uma das minhas obrigações. Então é assim.

Nas sessões da Assembleia da República (que é meu dever respeitar), todos os partidos, como acima dei a entender, são unânimes na obrigatoriedade de o Governo aumentar os salários e também de proporcionar o melhor acesso à alimentação, à habitação, à saúde, aos mais e melhores meios de transporte, o acesso à educação (de preferência gratuita), às férias, ao entretenimento…, fazendo crer que, se cada um deles constituísse Governo, estes benefícios estariam assegurados.

Como, porém, cada partido tenta e força para que tais bens sejam distribuídos de acordo com o seu programa, daí resulta que as decisões sobre os acima referidos e outros bens demorem tanto tempo a ser aprovados; e, quando o são, essa aprovação não seja recebida com a melhor das disposições.

A minha conclusão é esta: embora os nossos representantes na Assembleia da República evidenciem o maior interesse em ser-nos o mais propícios que podem, parece não serem capazes de ultrapassar as dissidências entre eles e, por isso, não chega a concretizar-se o tão prometido e desejado inefável bem.

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