A opinião de ...

Atirar a primeira pedra

“Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra!” (Jo: 8,7).
Vive-se muito a investigação da vida pessoal de qualquer pessoa, se essa pessoa vai fazer ou faz parte dum cargo relevante em qualquer instituição. E chega a tornar-se doentia a persistência com que essa investigação avança.
Em relação a isso, a minha ideia é a de que, quando se começa a entrar em particularidades menores e até irrelevantes, já só acompanhará a investigação quem sofre de curiosidade mórbida ou aguarda pela demissão do investigado, na perspetiva de conquistar um lugar vazio. Sejamos claros: quem não terá telhados de vidro?
Na passagem acima do Evangelho de S. João, os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher apanhada em flagrante adultério dizendo, entretanto que, segundo a lei de Moisés, deveria ser apedrejada. O Mestre, porque eles insistiam por uma resposta, disse-lhes: “Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra!” Um a um foram-se retirando; Jesus perguntou à mulher onde estavam eles e se algum a tinha condenado. Depois de ela afirmar que nenhum a condenara, Jesus fez-lhe saber que também Ele a não condenava. Mandou-a em paz e disse-lhe para não tornar a pecar.
Quando as decisões são sábias, provavelmente não haverá ninguém que resista a meditar nelas e delas poder colher frutos. Tal como no episódio da mulher adúltera, quanta gente não terá representado o papel dos que protagonizaram aquela cilada?
Minar uma instituição porque um dos seus elementos não foi nenhum modelo de bom comportamento e, no seu percurso de vida, alguma vez incorreu num percalço, mesmo grave, disso se arrependeu e pelo qual foi obrigado a ressarcir a sociedade, quererá dizer que toda a vida vai comportar-se assim? Penso que não será tão evidente como parece. Haverá, contudo, algumas exceções. E foi sobre estas exceções que aqui me trouxe a necessidade de tornar mais claras certas decisões sobre aqueles cujas vidas, persistentemente, alguém ou alguns continuam a “vasculhar”.
Não só aquelas, mas também outras pessoas competentes, com valor e vontade de assumir a sua função em cargos públicos, poderão e deverão ser escrutinadas, por quem tem a responsabilidade de escolhê-las para a sua equipa de trabalho. Sendo isto, decerto, oportuno e necessário fazer, nada tem a ver com o “vasculhar” das suas vidas. Não só se perde tempo com esta ação, como se impede de trabalhar quem está preparado para o fazer, ao mesmo tempo que se perdem energias que deveriam ser reservadas para assuntos que eu considero mais importantes.
De facto, quem poderá governar bem, ao ver a sua vida exposta, como por vezes acontece, e não pensará duas vezes se não será melhor desistir, deixando para outros a contribuição que ele poderia dar à equipa de que faz ou iria fazer parte?
Dadas as circunstâncias, seguindo o exemplo acima, e sem querer fazer juízos de valor, penso que deverei concluir, com estas perguntas: será que quem assim inquere nunca transgrediu? E em que medida?

Edição
3959

Assinaturas MDB