A opinião de ...

Respondendo ao “Caninófilo” João Rodrigues

Há uns meses escrevi um texto a propósito do fenómeno da “humanização” dos cães. De forma pertinente, julgo, chamava a atenção, entre outras coisas, para o facto de haver mais gente a defender os canídeos do que crianças e mulheres vítimas de maus – tratos.
Ofendido com o comentário, o “caninófilo” acima identificado reagiu da seguinte forma às minhas considerações, num comentário “postado”na plataforma online deste jornal: “Para alguns até o Sol gira à volta do Ser humano. Não me interprete mal nem se ofenda mas quando põe a mão no lado esquerdo do peito sente alguma coisa? Ou será do vinagre que deita na salada? Ou das limonadas que bebe? Espero que nunca precise de ser resgatado debaixo de escombros, num sismo, por um cão ou por outra bicharada qualquer”.
Pegando no primeiro ponto da provocação, o que se me afigura dizer é que, caso não tomasse como válida a teoria heliocêntrica, o Sol só poderia girar à volta do Ser humano, não porque as demais espécies existem para o servir, mas pela posse da razão, pela capacidade de reflectir e pensar, que lhe permitem usar o conhecimento para mudar a natureza. Ou seja, o ridículo e anormal não é o Sol girar à volta do ser humano, mas alguém conceber a teoria que assenta no primado canino.
Quanto à segunda pergunta, e porque me encontro na desconfortável posição de “juiz em causa própria”, aconselho-o a informar-se sobre o meu carácter e sensibilidade junto daqueles que comigo privam. Mas se o leitor João Rodrigues me permite, devolvo-lhe a pergunta: o que têm no lado esquerdo do peito aqueles milhares de pessoas (de que, provavelmente, o meu caro fará parte) que, pertencendo ao poderoso lobby canino, subscreveram em 2013 a petição online para impedir o abate do cão, arraçado de Pitbull, que matou a criança de 18 meses, em Beja, mostrando uma arrepiante frieza tumular em relação à inocente criatura e a quem directamente viveu o drama da sua perda?
Onde está o coração daqueles que, em caso de apuros, confrontados com um cenário de escolha única, não hesitam salvar o seu cachorro em detrimento de uma pessoa desconhecida? Conceber, pois, uma situação destas, por mais desprezível que um sujeito possa ser, é revelador do quão doente está a nossa sociedade.
Em relação ao vinagre, o que lhe posso dizer é que este produto, resultante da fermentação acética do vinho e outras substâncias alcoólicas, não tem a capacidade de me causar frustrações. A única coisa que tenho notado no seu uso - sempre com moderação, como faço em tudo na vida -  é que me tem ajudado a manter o colesterol em níveis aceitáveis.
O Sr. João Rodrigues põe a hipótese da minha “insensibilidade” poder dever-se ao consumo de limonadas. Negativo: não gosto de limonada. Feita a partir de sumo de limão, esta bebida é conhecida pelas suas propriedades no alívio de sintomas de ingestão, a saber, a azia e a flatulência – problemas de que, felizmente, não padeço.
Por último, retribuo-lhe os votos que formulou: oxalá também nunca precise de ser resgatado debaixo de escombros. Se acontecer, uma coisa lhe posso garantir: tendo que optar entre si e o seu animal, numa acção de resgate, o João Rodrigues será o contemplado, simplesmente porque não confundo o valor da vida humana com a canina.
 

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