A vida foi boa para mim
Francisco Salgado Zenha faria 100 anos no passado dia 2 de maio. Nesse dia, representei o Presidente da Assembleia da República nas comemorações do seu centenário, promovidas pela Escola de Direito da Universidade do Minho.
Francisco Salgado Zenha faria 100 anos no passado dia 2 de maio. Nesse dia, representei o Presidente da Assembleia da República nas comemorações do seu centenário, promovidas pela Escola de Direito da Universidade do Minho.
Primeiro a pandemia. Depois a invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra e os seus efeitos. A inflação, a crise energética, a subida do custo de bens essenciais, o aumento da prestação do empréstimo à habitação e outros problemas afins ocupam a nossa atenção. Com as preocupações imediatas, é natural que a qualidade da democracia não seja uma prioridade. É, porém, a democracia que nos confere direitos fundamentais, nos garante o acesso à educação, à saúde, à segurança social e nos protege de discriminações, perseguições e abusos.
No dia em que escrevo, 18 de julho, o professor Adriano Moreira, nosso conterrâneo e meu amigo de longa data, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pelo Instituto Universitário Militar, em cerimónia presidida pelo Presidente da República. No discurso de encerramento, bem estruturado e com aquele toque pessoal a que nos habituou, Marcelo Rebelo de Sousa aludiu aos encontros e desencontros do homenageado com a história, exemplificando que só houve desencontro por ele “ter chegado cedo demais”. O que não o impediu de há muito ter conquistado o seu lugar na história.
Foi há muito tempo, é certo. Há precisamente duzentos anos. Num tempo em que as mulheres estavam socialmente muitos degraus abaixo do homem mais desqualificado.
António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas, apelou a Putin, “em nome da humanidade”, que não começasse “na Europa a pior guerra desde o início do século”. Gesto inusitado e muito corajoso, para mais dirigido a um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
O Orçamento do Estado para 2022 (OE22) foi rejeitado pelos partidos à esquerda e à direita do PS. Uma vez mais, uma maioria negativa provocou eleições antecipadas. Eleições desnecessárias e que vão protelar a execução dos fundos europeus alocados ao Programa de Recuperação e Resiliência e, por consequência, retardar a recuperação da economia.
A noite eleitoral do passado dia 26 de setembro foi atípica. Foi mais longa que o habitual e recheada de incertezas. Apesar dos avanços tecnológicos, os resultados tardavam a certificar vitórias e derrotas. Os dados oficiais ora confirmavam a tendência para um lado ora pendiam para o outro. E as horas iam passando e a ansiedade aumentando. E eu fora de portas, em Estrasburgo, para onde o dever me levara logo a seguir ao cumprimento do dever cívico de votar. Uma noite que jamais esquecerei. Foi a primeira vez que acompanhei, desacompanhada, um ato eleitoral em Portugal.
Os “pais” fundadores da unidade europeia são conhecidos. Os nomes de Robert Schumann, Jean Monnet, Konrad Adenauer, Alcide De Gaspari, Altiero Spinelli e Paul-Henri Spaak estão gravados na pedra, consagrados em livros, documentários e filmes, deram nome a ruas, edifícios e salas, são estudados em centros de investigação, universidades e institutos. São lembrados e celebrados. E as “mães” fundadoras da Europa? Será que sem o idealismo, a força, e a determinação de Ursula Hirschmann, Louise Weiss e Anna Lindh, para referir apenas três, o projeto europeu teria sido o mesmo?
Orgulho-me de ser transmontana. Sempre que posso, correspondendo ao apelo telúrico, lá vou eu rumo ao Norte revisitar a nossa terra e a nossa gente, à procura de “momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e incomparáveis”, como escreveu Pessoa.