Luís Filipe Guerra

Juiz, membro do Centro Mundial de Estudos Humanistas

Olhares Cinematográficos

A situação já tinha precedentes, desde o longínquo filme documental “Trás-os-Montes” (1976), de António Reis e Margarida Cordeiro, e da curta-metragem “Para Cá dos Montes” (1993), de Joaquim Pinto, entre outros, mas há uma curiosidade nova sobre esta região por parte de jovens cineastas.
Com efeito, em 2018, já se tinha estreado “Bostofrio”, de Paulo Carneiro, que acompanhava a viagem do realizador até à aldeia de Bostofrio, em Trás-os-Montes, para investigar o seu avô desconhecido.


Nas nuvens

Um dos atrativos das viagens entre o litoral nortenho e a região transmontana é a paisagem natural que é dada a contemplar ao viajante.
Assim, quem circula no sentido ascendente (oeste-este), de manhã cedo, encontra em muitos dias, do túnel do Marão em diante, tapetes de nuvens que encobrem totalmente os vales e deixam apenas ver os cumes dos montes que se elevam acima desse manto diáfano.


O direito à alimentação adequada

Uma das observações mais habituais quando comento, no meu círculo de relações, que estou a trabalhar em Trás-os-Montes, é que aqui se come muito bem.
Há até pessoas que fazem, com alguma frequência, expedições gastronómicas do litoral ao interior para vir provar as iguarias que por cá se confecionam, começando desde logo pela famosa posta mirandesa.
E não há dúvida que a cozinha transmontana é saborosa e abundante, fazendo as delícias de quem aprecia a boa mesa.


Opiniões e desigualdades

Numa das suas tiradas célebres, o escritor José Saramago referiu que “o drama não é que as pessoas tenham opiniões, mas sim que as tenham sem saberem do que falam”.
Fazia, assim, eco da ideia que o filósofo Ortega y Gasset já havia deixado no seu famoso livro “A Rebelião das Massas”, de que, hoje em dia, qualquer pessoa (o homem-massa) não escuta nada, mas sente-se em posição de opinar sobre tudo.

Estas ideias são um repto a todo o cronista, incitando o mesmo a documentar-se para falar dos assuntos sobre os quais pretende emitir opinião.


Para além do luto

A pandemia e a guerra na Ucrânia vieram obrigar-nos a lidar quotidianamente com o tema da morte nestes últimos tempos.
Obviamente, a morte esteve sempre presente à nossa volta, já que a finitude é uma condição inexorável do ser humano, mas a consciência da mesma vai flutuando em função dos momentos da vida.


Impactos da Pandemia

O impacto mais profundo da pandemia começa agora a mostrar-se, ao fim de quase dois anos de emergência sanitária, com algumas intermitências.
De facto, a pandemia não significou somente a irrupção de uma nova doença, com uma letalidade considerável, sobretudo nas gerações mais velhas e nas pessoas com imunodepressão, sem uma resposta terapêutica eficaz.


Culturas telúricas

Conversar com a população transmontana é, além de tudo o mais, sentir o substrato de ruralidade que nutre as suas vivências, passadas e atuais. Mesmo aqueles que vivem nas cidades, mantendo atualmente um estilo de vida predominantemente urbano, mostram os sinais de uma cultura profundamente telúrica, que o escritor Miguel Torga tão bem soube ilustrar nos seus contos.


A rebelião contra o sofrimento

No final do mês passado, tive a oportunidade de me reunir com um grupo de estudos que tinha como interesse comum refletir sobre a seguinte pergunta: “À medida que a vida passa, cresce em ti a felicidade ou o sofrimento?”1
E se essa era a pergunta, a atitude que orientava a procura da resposta era a de saltar por cima do sofrimento, para que pudesse crescer a vida em cada um e não o abismo ou a sombra.


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