Ernesto Carolino Gomes

Aconteceu poesia em Sambade...

Sambade, Casa do Povo. Sexta-feira, 19 de Agosto. Apresentação estrondosa, no melhor sentido do termo, de um livro de poesia de Duarte (Nuno) Moreno, O Pássaro no Traço – Em Tronco Nu, assim titulado. Foram poemas ditos e sentidos, mais que lidos, com saber, mestria, ao som de música que falava. Menos que os poemas, mas falava. Cenário fantástico, em movimento contínuo, emprestando ainda mais fantasia à fantasia dos poemas. Estava cheia a Casa, afirmação de que (também) é possível nivelar por cima quando de cultura falamos.


Parem com isso!...

Com o decurso dos últimos tempos, vimos assistindo a múltiplos actos de infanticídio que mães praticam e que nenhuma razão poderá explicar. Ao menos, no campo do entendível. A sociedade foi-lhes colocando nas mãos, mais por sinais dos tempos do que irreflectidamente, a vida de seres inocentes e indefesos. De forma ampla, enquanto transportados nos ventres; de sorte menos livre (e mais libertina) após à luz dados.


Algarveland e Portuglish

Carregamos às costas um passado de expansionistas e colonizadores, nem sempre prestigiante, enculturações e aculturações forçada e forçosamente levadas a termo em casos múltiplos. Se descobrimos um ou outro canto, achámos muitos, onde a civilização ocidental jamais havia chegado, penetrante. Sendo que o colonialismo é detentor de duas faces, conhecida a do sujeito, que, triste e enganosamente deixámos, facilmente percebemos a do objecto. E passar de uma à outra foi menos que mero entretém.


Em desagravo dos transmontanos

Maldição esta do povo português, no seu jeito teimoso de tecer juízos de valor ou de alinhar caricaturas objectivando terceiros sem cuidar de, previamente, burilar auto-retrato que transporte virtudes e defeitos próprios. Isto no sentido de empecer o caminho para a construção de figuras tristes a partir de tristes figuras. Apelintrou-se espiritualmente e conspurcou-se de grotesco o músico, ao qualificar de «medonhas, feias e desdentadas» as pessoas transmontanas. Mau grado não as ofender quem queira, incomodam-nas alguns, ainda que desprezo lhes mereçam (e merecem).


Memórias da minha infância

Subia aos terceiros da minha casa, daí observando a natureza, nos seus contrastes e mutações, sobre uns e outras cogitando. Tantos coloridos primaveris, por oposição àqueles cinzentos tristonhos, meses após. Assustador o espectáculo do ribeiro galgando margens, engordado pelas chuvas copiosas que os céus derramavam sobre as terras, quentes ou frias, campos alagados, porventura menos por força das águas que tudo arrasavam do que pela sua vontade de se insurgirem contra as margens que, teimosamente, as comprimiam.


Simpatia, ou empatia?...

Desconfio dos simpático, para confiar no empático. Aquele chora quando choramos, porventura lágrimas doces, dos olhos caídas, que não do coração. Pode abraçar-nos nas horas amargas, na esperança de que estas pouco permaneçam, logo nos abandonando se estas permanecerem. Desaparece quando mais precisarmos, sem que saiba se dele precisamos. O empático é aquele que, sem precisar de chorar connosco, nos consola nas horas infelizes, a nosso lado nos fazendo ver e crer que está, incondicionalmente, sentindo e vivendo os nossos problemas como se dele fossem, como nós os sentimos e os vivemos.


Da cidadania à política

Pareceu-me claro o espanto da entrevistadora quando António Barreto manifestou a defesa da eleição do Presidente da República por via indirecta, e não directamente, escolha por direito e responsabilidade dos eleitores. Povo, portanto. Tenho pelo eminente sociólogo admiração enorme, muito em especial devida à honestidade intelectual que consigo carrega, mas também eu me afasto do seu ponto de vista. Porventura guarde ele razões mais profundas do que as apresentadas, e que não descortino.


O (meu) direito à indignação

Perplexamente e nos últimos tempos, dou por mim a constatar a negação da alienação parental, curiosamente por parte de quem me parece que teria a estrita obrigação do seu contrário, na defesa dos mais subidos interesses de quem lhe é vítima – a criança. Pura coincidência? Desta feita, é um jurista a epitetar Richard Gardner de iluminado, enquanto percursor da síndrome de alienação parental, isto mau grado a sua condição de professor universitário, especialista em psiquiatria infantil e forense.


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