A opinião de ...

A MAIOR AMEAÇA É INVISÍVEL E NÃO TEM CÉREBRO

A forma como escrevo as minhas crónicas é a mesma desde há muito tempo. Começo por escrever um rascunho onde a preocupação principal é registar as ideias. Gravo esse ficheiro que depois será revisto, corrigido e melhorado. Gravo por cima do anterior. Depois de uma última leitura é enviado para o jornal. Inexplicavelmente o ficheiro enviado para o Mensageiro e que constituiu a minha última crónica em vez de ter sido o ficheiro revisto e corrigido, foi o rascunho e estava com vários erros e incorreções. Só me apercebi desta lamentável troca quando recebi o jornal. Devo a todos os meus leitores um sincero pedido de desculpas. Tudo farei para que tal falha não volte a ocorrer.
 
A propósito de uma crónica anterior “Back to Basics” fui questionado sobre a real ameaça das infeções hospitalares, sugerindo que talvez eu tenha exagerado no perigo. Infelizmente não.  O risco é real. Só assim se explica que o projeto ONEIDA, liderado pela investigadora Raquel Sá Leão do Instituto Tecnológico Química e Biológica, em colaboração com vários outros centros de investigação, tenha recebido um financiamento milionário, da União Europeia, para estudar precisamente este tema. Mais de oito dezenas de investigadores vão dedicar-se, nos próximos três anos a identificarem e caracterizarem o problema e a apontarem possíveis soluções para combater esta ameaça.
 
Recentemente, cento e noventa e três membros das Nações Unidas reuniram-se para analisar e debater este problema e concluiram que a maior ameça atual da humanidade não tem cérebro e é invisível a olho nu. O problema vai requerer uma estratégia de combate semelhante à adotada para lutar contra os efeitos das alterações climáticas.
 
Uma reportagem recente do Jornal Público revelou que em Portugal morrem, em média, doze pessoas por dia vítimas das infeções hospitalares, número que é sete vezes superior às mortes por acidentes de viação. De tal forma que o Ministério da Saúde equaciona a atribuição de icentivos aos hospitais que reduzam a taxa de infeção dos seus utentes.
 
Mas o problema não se confina aos hospitais. As superbactérias que resistem à ação dos antibióticos começam a proliferar por outros locais e ambientes. O tratamento de algumas infeções de animais, produzidos em série para consumo humano, com doses exageradas deste tipo de medicamentos veio multiplicar o número de microorganismos que a pouco e pouco vai adquirindo resistência aos remédios conhecidos. Estas colónias destes agentes infeciosos tendem a dessiminar-se e são já uma ameaça muito séria e preocupante.
 
Se as armas conhecidas começam a perder eficácia e o inimigo é invisível como poderemos proteger-nos e evitar os seus ataques traiçoeiros e mortíferos, ou, pelo menos, minimizar-lhe os efeitos? É essa a resposta que os investigadores do programa ONEIDA vão procurar ativamente a partir de janeiro do próximo ano. Os resultados e conclusões serão, logo que certificados, disseminados por todo o país e divulgados por todo o mundo. Confiemos na sua capacidade e talento.

Edição
3606

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