A opinião de ...

Olho por olho, dente por dente …

Olho por olho, dente por dente” é ainda em muitas sociedades uma expressão apelativa da violência, ódio e vingança: o castigo infligido ao agressor deve ser igual ao dano causado à vítima. Esta expressão surgiu há cerca de quatro milénios para impedir que a justiça fosse feita pela própria vítima ou pelos familiares da vítima. No Código de Hamurabi (reino da Babilónia -1.700 AC) foi introduzida a chamada lei de talião – lex talionis - (tal crime tal castigo - retaliação). O castigo não podia ir além do crime e assim foi travada a vingança praticada pela vítima ou familiares da vítima que por ódio, quase sempre era exageradamente desmedida na aplicação do castigo. Depois do Código de Hamurabi passou a haver um limite na aplicação do castigo ao criminoso, ou à reparação dos danos causados por alguém a outra pessoa. O castigo não podia ser pior que o crime, assim devia ser interpretado a lei de talião.
O Código de Hamurabi, na medida em que doseava a sanção (o castigo não podia ser superior ao dano causado pelo criminoso), representou um grande avança da humanidade; Assim surgiram na sociedade os tribunais, como uma entidade independente, para fazer uma análise dos fatos (julgamento) e aplicar a sanção ao criminoso de forma a ser atingido um equilíbrio entre o crime e o castigo, ou que o dano causado fosse igual à sua reparação e não mais.
Na Bíblia, (segundo o livro do Êxodo, revelado por Deus a Moisés) também se encontrava escrito o mesmo princípio: ”olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”. Há dois mil anos, esta reciprocidade foi substituída, nos dizeres de Jesus Cristo, por outros princípios prenhes de humanismo não violento quando ensinou: “não te vingues dos que te fazem mal, se alguém te der uma bofetada na tua face, oferece-lhe a outra face”. Cristo apelava à não vingança, ao não ódio, ao perdão, à paz entre os homens mesmo quando estes praticavam atos violentos sobre alguém.
No século XX, também Maatma Gandhi foi pacificamente benevolente e lembrou à humanidade a importância da abolição da violência, o esquecimento da vingança e a prática do perdão entre os homens: “a vingança corrói o ser humano … se seguirmos o princípio olho por olho a humanidade vai ficar toda cega”. Parecendo uma contradição, Gandhi aconselhava a humanidade a manter-se pacífica como uma forma de alcançar a paz, desmotivar os seus opressores e conquistar ou fazer valer os seus direitos. (Gandhi nasceu na India em 1869 e foi assassinado no ano de 1948 por Nathuran Godse que pela prática do seu crime foi condenado e enforcado; apesar disso, Gandhi, fiel aos princípios que proclamava, antes de morrer, ainda teve tempo para pedir aos juízes a não punição do seu assassino).
Como alguém dizia, depois dos últimos acontecimentos violentos em França, vivemos tempos de sentimentos de vingança, ódio e retaliação. Devemos ter confiança nas Instituições Internacionais (ou supra-nacionais). Deixemos aos Tribunais o trabalho de fazer Justiça; como cidadãos devemos ultrapassar estes sentimentos de vingança, não por medo (ou estarmos em tempo de natal), mas como princípios de vida do homem em sociedade. Há dias, um cidadão francês a quem mataram a mulher num ataque perpetrado pelos novos terroristas que usufruem da solidariedade europeia, dizia: “se educo o meu filho no ódio e na vingança, amanhã ele será um deles”. Este cidadão, na sua indizível dor, referindo-se aos assassinos que destruíram a sua família, ainda teve a coragem de lhes enviar uma mensagem de paz e perdão: “eu não vos darei o prazer de vos odiar
Em tempo de Natal, que bela lição de paz, amor e fraternidade deu este cidadão anónimo a toda a humanidade, apesar de tragicamente amargurado com a perda da esposa e uma criança nos braços para criar.
Desejo Feliz Natal e Bom Ano para toda a Humanidade

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3553

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