Moção pelo comboio passou mas sem o consenso político

Tinha tudo para ser o ponto mais pacífico da reunião da Assembleia Municipal de Bragança da passada sexta-feira mas acabou por ser o mais controverso. A moção apresentada pelo grupo do PSD, a defender a escolha do corredor Porto-Vila Real-Bragança-Zamora-Madrid para a ligação de alta velocidade a Espanha acabou aprovada, com 58 votos a favor e 17 abstenções, do PS, CDU e Chega.

Em causa, um diferendo quanto ao texto da moção.
“Considerando que;

1- O Governo, no Plano Ferroviário Nacional, atualmente em discussão pública, aponta para a escolha do corredor Aveiro-Viseu-Salamanca como sendo o eixo de Alta Velocidade a Norte de Portugal;

2- A Associação Vale d’Ouro fez um estudo sobre o melhor traçado a Norte de Portugal, tendo apresentado uma nova proposta, com uma solução totalmente viável, eliminando a ideia que a Norte do Douro o relevo era demasiado acidentado e que era impossível a implantação de uma linha com as caraterísticas de Alta Velocidade, em território transmontano, com claras vantagens para o país, já do conhecimento do Governo;

3- Em termos de tempos de viagem entre Porto e Madrid constata-se que, de ambas as soluções, a proposta Porto-Bragança-Zamora- Madrid, via Trás-os-Montes, assegura maior rapidez que a solução alternativa, oferecendo um tempo de viagem de 2h45 contra as 4h30 por Aveiro-Salamanca-Madrid;

4- Este percurso (Porto-Vila Real-Bragança-Zamora-Madrid) desencravaria Trás-os-Montes do isolamento e do despovoamento galopante a que tem vindo a ser condenado, porque será um eixo interurbano de escala ibérica;

5- Em Trás-os-Montes não existe nenhuma ferrovia e que a região está totalmente dependente e refém do transporte rodoviário, quando o futuro é, como todos sabemos, a ferrovia;

6- Que na linha da Beira Alta estão a ser investidos 500 milhões de euros e, caso se construa uma nova linha de Alta Velocidade no eixo Aveiro-Viseu-Salamanca, irá sobrepor-se a uma existente que está, portanto, a ser modernizada;

7- O Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Dr. Hernâni Dias, já tinha apresentado publicamente a sua preocupação pela não inclusão de Bragança no mapa da Alta Velocidade;

A Assembleia Municipal de Bragança, reunida em sessão ordinária de 03/02/2023, deliberou reclamar e exigir junto do Governo Central a inclusão do corredor Porto-Vila Real-Bragança-Zamora-Madrid, no Plano Ferroviário Nacional, como sendo o eixo de Alta Velocidade a Norte de Portugal.”

No entanto, o texto não mereceu consenso pela referência à alternativa por Aveiro e Viseu.

“Fui eleito para defender os interesses de Bragança mas não fui eleito para votar contra os interesses de Aveiro e Viseu”, frisou o deputado da CDU, José Castro.
Já Mário Ortega, do PS, explicou que os socialistas comungavam dos princípios que estavam na origem da moção mas não concordavam com a opção de ser uma em detrimento de outra.

“Concordo que apelemos às nossas vantagens mas deixando os outros. Se fizermos uma moção em que estejam as partes positivas pela opção de Trás-os-Montes, a votação por unanimidade parece-me importante e não estamos contra. Mas o que estava em causa era a opção entre ser por Trás-os-Montes ou por Aveiro. Se dúvidas existirem, que o Governo faça o estudo de qual a opção mais vantajosa. Se a opção é votarmos uma moção em que ou somos nós ou somos os outros, já não é bem assim”, explicou.