A opinião de ...

A ignorância como alternativa

Ao longo dos mais de nove meses que levamos de pandemia no distrito de Bragança, muitas vozes se têm levantado contra as notícias sobre o percurso do novo coronavírus na região.
Muitas vezes, quem se insurge é porque tem rabos de palha e está, de alguma forma, comprometido. Outras vezes, trata-se apenas de ignorância.
Informação é sempre poder.
O Mensageiro tem acompanhado diariamente a evolução da situação no Nordeste Transmontano, onde nas últimas duas semanas se verificou quase a duplicação do número de casos.
Noticiar o ponto da situação, dizer quantos casos ativos há em cada concelho e quais os principais surtos ativos ou a surgir, mais do que um dever, um serviço público, que contribui para que os leitores possam decidir, de forma mais informada. Decidir pelas medidas de proteção, por exemplo.
Confundir o direito e o dever de informar com um qualquer desvio ligado ao sensacionalismo é, simplesmente, desvalorizar o mesmo sistema que, noutras ocasiões, ajuda a “promover” esses mesmos atores.
Se há coisa que a covid-19 já nos deveria ter ensinado é que não há inocentes nem culpados e que toca a todos por igual. Saber o ponto da situação ajuda, por exemplo, a prevenir comportamentos que podem contribuir para uma mais rápida disseminação da doença.
Ao longo destes meses temos assistido a comportamentos exemplares, quer ao nível pessoal, quer ao nível institucional. Ainda recentemente, por exemplo, em conversa com alguém do sistema de saúde, algumas IPSS da diocese eram apontadas como um exemplo em termos de elaboração e aplicação de um plano de contingência, em que, apesar das vicissitudes, as medidas proativas funcionam.
Mas também assistimos a autênticos desastres, quer da gestão do risco quer (sobretudo), da gestão da comunicação.
A dúvida ou a suspeita que se cria na opinião pública mancha de forma indelével qualquer bom trabalho que se possa fazer.
A missão de informar é tudo menos fácil, sobretudo num distrito em que comunicar a pandemia não é uma prioridade, longe disso, por parte das diversas autoridades.
Mais do que aliados, os jornalistas são vistos como o inimigo ou intrusos.
Mas a população anseia por mais informações e é na imprensa de proximidade – a regional – que encontra algum conforto. Sobretudo se, como é o caso do Mensageiro de Bragança, se fizer um trabalho de sistematização da informação, busca, verificação e tratamento, diário. Há falhas, óbvia e infelizmente, muitas delas provocadas, também, por essa lei da rolha que vai tolhendo muito do que se faz de positivo. Mas se, com esse esforço, pudermos contribuir para a adoção de comportamentos mais seguros que permitam um Natal mais feliz e esperançoso e, sobretudo, a salvar vidas, então o nosso trabalho valeu a pena. Por mais que isso custe.
Hoje, 17 de dezembro, assinala-se o Dia Nacional da Imprensa, com um evento promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa (API), com a colaboração da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC), este ano em formato digital e sob o tema “Luta contra a Desinformação”. Portanto, suficientemente importante para ser levado em conta pela Comissão Europeia.
Às 10h00, Věra Jourová, Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência, explica como os recém lançados planos de ação para a democracia europeia e para apoiar a recuperação e a transformação dos setores da comunicação social e audiovisual contribuem para tornar as democracias mais resilientes em toda a UE e para apoiar estes sectores particularmente afetados pela crise do coronavírus. São dois planos de ação que se complementam e serão fundamentais para a resiliência das nossas democracias, para a diversidade cultural da Europa e a autonomia digital. A Vice-Presidente efetuará ainda uma atualização sobre o caminho feito na luta com a desinformação, nomeadamente no contexto da pandemia.

Edição
3812

Assinaturas MDB