A opinião de ...

O resultado esperado

Esta é uma crónica, infelizmente, anunciada.
Desde antes do verão que passou que se tem assistido a algum excesso de confiança das autoridades responsáveis que desembocou no segundo confinamento em menos de um ano.
No dia em que se cumprem exatamente dez meses desde o aparecimento do primeiro caso de covid-19 no distrito de Bragança, termina a pior semana destes dez meses, com mais de 800 casos novos, fruto, acreditam os responsáveis, dos ajuntamentos familiares por alturas do Natal.
Mas, e já o tínhamos escrito, este vírus comporta-se de forma mais ou menos esperada, ainda que com maior virulência, pois os gráficos de contágio seguem os habituais gráficos do vírus da gripe.
Todos os anos os casos de gripe diminuem no verão para ressurgir a partir de setembro, havendo um aumento em força em janeiro, com a chegada dos dias mais frios e da geada.
Ora, é precisamente a esse fenómeno que temos assistido com o novo coronavírus, o Sars-Cov-2, que provoca a covid-19.
E, tal como há cem anos, com a chamada gripe espanhola, a segunda vaga, que chegou também no final do ano, foi a mais grave.
Por isso, tendo em conta estes antecedentes, não se percebe como se marcaram umas eleições (fossem elas quais fossem) para o mês em que era expectável que houvesse o maior aumento de casos da pandemia.
Como boa tradição portuguesa, em cima da hora ainda está tudo por fazer e decidir.
Como se fará a votação dos utentes dos lares, por exemplo, confinados há tanto tempo?
Quem fará o transporte das urnas e assegurará a segurança dos votos, por exemplo? Há meios para montar toda essa logística a menos de duas semanas do ato eleitoral?
A questão é que esta será apenas uma amostra, pois as eleições presidenciais são, tradicionalmente, menos participadas do que as autárquicas, que também se realizam este ano e logo na altura em que a curva de novos casos voltará a conhecer uma subida, tal como já se verificou no outono passado.
Em relação às presidenciais, o conhecido Tino de Rans pôs o dedo na ferida: que legitimidade têm umas eleições com mais de 50 por cento de abstenção?
Já sobre as autárquicas, sobram questões. Como vai decorrer a campanha, que habitualmente é de maior proximidade, e que terá muitos mais candidatos a lutar pelo voto popular?
Há condições para fazer a campanha?
E que campanha podemos esperar?
Dez meses depois do início da pandemia e a dez meses desse ato eleitoral, fundamental para a nossa democracia pois é dos órgãos do soberania que mais perto estão do povo de que se fala, é altura de começar a arranjar mais respostas do que perguntas.

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3815

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