A opinião de ...

Memória II

Começo por uma manifestação de interesses: considero António Costa um bom presidente de Câmara como estou certo que foi garantidamente positivo o seu desempenho como ministro, quer dos Assuntos parlamentares, da Justiça ou mesmo da Administração Interna. Provavelmente seria, se eleito, um bom primeiro-ministro. Pessoalmente gostava muito de o ver a disputar o lugar à frente do Partido Socialista. Porque, mesmo que não ganhasse as eleições, exigiria dos seus opositores uma esforço adicional na procura de melhores soluções para o nosso país. De uma forma ou de outra o país sairia a ganhar.
Igualmente defendo (como já publica e repetidamente declarei) a eleição direta dos dirigentes políticos.
Contudo...
 
Falta provar que as diretas acrescentam legitimidade democrática! Afinal, apesar do aumento do universo eleitoral, apenas dois destacados dirigentes podem ser votados. E, sejamos francos, apesar de ser alargado, não é universal. E, assim sendo, acaba por não ser carne nem peixe. O escolhido não é o eleito da maioria dos votantes e pode não ser sequer o candidato do Partido Socialista. Um partido é, por definição, o conjunto dos seus militntes. É possível que a maioria que indicar o candidato seja maioritariamente não socialista. E portanto, em disputa do cargo de primeiro ministro pode aparecer sob o estandarte socialista e com programa do PS alguém que não representa quem lhe garante a “legitimidade”.
 
O mais grave contudo advém precisamente do “esquecimento” seletivo de muitos dirigentes. António José Seguro, há três anos disse claramente ao que vinha: liderar o PS até às eleições! Comparou, inclusivamente, a tarefa a uma corrida de maratona. Nenhum dos que hoje o criticam e lhe criticam asperamente a “teimosia” o contrariou na altura ou lhe chamou à atenção nos tempos seguintes. Calaram-se num consentimento tácito que, aliado ao comportamento de proximidade, só poderia querer dizer concordância. Como é possível esquecerem? Que falta de memória lhe pernite agora assumirem-se como opositores de sempre a soluções que afinal são “intrinsecamente erradas” (tanto assim que, em muitas vezes até dispensam prova de evidência!) E que apelo farão à nossa falta de memória quando as soluções corretas de hoje constituirem, obvia e evidentemente, o lote dos erros crassos que urge evitar, corrigir ou anular?
 
Obviamente que, uma vez aceites as regras do jogo, qualquer militante e simpatizante do partido rosa, é livre e tem legitimidade para escolher a solução que a seu ver melhor serve o país. Mas atenção. Muitos deles são autarcas. Ora se, por mero acaso, vierem a publico defender a solução protagonizada por António Costa com base no argumento de que ele está em melhores condições para defender os interesses nacionais, é bom que guardem espaço na memória para aceitarem ser desafiados, em qualquer altura por todos os que na sua avaliação ou na avaliação de um grupo razoável de munícipes entendam que estão melhor qualificados para liderarem os destinos do concelho! António José Seguro foi eleito para secretário geral do PS para um mandato que termina depois das legislativas pelos militantes socialistas onde se encontram todos os que hoje defendem a candidatura de António Costa. E todos estes (quase) sem exceção, advogam que o atual líder deveria ter-se demitido dando uma oportunidade ao seu adversário. Ora se entre estes houver algum Presidete de Câmara, estou certo que ele mesmo tomará a iniciativa de se demitir e dar a oportunidade a um opositor sempre que os resultados da administração municipal, mesmo que positvos, não atingirem os padrões elevados que os munícipes merecem e lhes foram prometidos em campanha!
 

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