Igreja de Santa Comba, Santa Comba de Rossas. Casta e Inocente como uma Pomba!
Aldeia e freguesia, situada na vertente Poente da Serra da Nogueira, 22km a Sudoeste de Bragança. O povoado é muito antigo e a paróquia, dedicada a Santa Comba, virgem e mártir da segunda metade do séc. III, recua à pré nacionalidade, pertencendo então à Terra de Lampaças. Nas Inquirições de 1258, de D. Afonso III, Santa Comba é mencionada entre as primeiras do termo de Bragança, de pertença régia, mas com os Templários e o Mosteiro do Castro de Avelãs detentores de propriedades. Já o padroado da Igreja pertencia ao rei e a fábrica estava associada aos moradores. Nos séculos XIV e XV, D. Afonso IV e, depois, D. Duarte, dão primazia a jurisdição civil em detrimento da eclesiástica dos Monges do Castro. No séc. XVI, a Igreja de Santa Comba estava anexa à de S. Nicolau de Salsas, pertença à Ordem de Cristo, e o cura ao respetivo reitor. Se a Igreja está inserta no povoado, 2km a Noroeste situa-se a Capela de Nossa Senhora do Pereiro, “em aprazível localização campestre, rodeada de seculares castanheiros”, junto de antiga estrada romana. Aventa-se que D. Pedro e Inês de Castro estiveram na Capela e que aí terá também parado a futura rainha Santa Isabel. Teve confraria entre 1710-1863. Referem as «Memórias Paroquiais de 1758» que junto estava “huma fonte que fas milagres em algumas criaturas lauandose e bebendo daquella aguoa”. Quanto à Matriz, tinha “tres altares hum o da Capella maior que gouerna o Senhor Marques de Valença Comendador daqui e os dois Coletrais hum de S. Antonio e outro da Senhora da Conceicaõ os quoais guoverna o povo”.
Igreja setecentista, com inscrição 1741 no dintel do portal principal, encimado por cartela IHS, impõe-se pelo risco arquitetónico granítico do frontispício. Delimitado por pilares moldurados, rematados por pináculos piramidais com bolbo. O portal é de moldura recortada nos vértices e jambas almofadadas de dupla imposta. Do entablamento sobressai frontão triangular, de nicho vazado, pia inferior e concheado superior, pináculos piramidais com bola nas arestas e pequena Cruz trevolada no vértice. É ladeado por dois óculos circulares. O ‘pano’ da fachada está truncado por campanário de dupla sineira, em arco de volta perfeita. Sobrepujado por espaldar triangular, aberto por vão no tímpano, ladeado por pináculos e coroado por Cruz latina.
O interior é espaçoso, de paredes rebocadas e pintadas de branco e cobertura de madeira em forma de berço. Os três altares, policromados e dourados do barroco tardio, de restauro recente, contêm mesa em forma de urna, colunas torças com vegetalismos nas espiras e capitéis alusivos ao coríntio. Os altares colaterais, apostos às paredes do arco triunfal, são gémeos, unidos por ático com sanefa e festões, decoração volutada e, ao centro, anjos atlantes a segurar cartela concheada. Dedicados ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora de Fátima. Os retábulos, de colunas a verde e presença do escarlate, decoração vegetalista e concheada a dourado, tem Sacrário com dossel, ladeado por anjos atlantes. Em nicho, envolvido por duplo aro de volta perfeita, a imagem expõe-se sobre trono com querubim na face. Um triplo vaso decorativo coroa o conjunto. No teto, doze painéis pintados aludem aos Evangelistas, na parte central, e a oito Apóstolos. Nas paredes laterais constam imagens de S. Sebastião e Santa Rita de Cássia.
No Altar-mor, de registo decorativo similar, a pintura é a branco. O retábulo, de triplo eixo, expõe Crucifixo sobre o Sacrário e abre tribuna com trono expositivo de três degraus, com Pomba do Espírito Santo aureolada. Os eixos laterais, com reposteiro superior, apresentam sobre peanha o Orago Santa Comba, no lado do evangelho, e Santa Luzia no da epístola. O ático, corrido por sanefa, com anjos alados, vestidos, sobre as cornijas das colunas, centra a Cruz da Ordem Cristo, amparada por anjos alados nus. As dez pinturas encaixotadas no teto referem-se à crucificação de Jesus, Sagrada Eucaristia e a instrumentos do martírio.
Como curiosidade, a antiga estação de comboio de Santa Comba de Rossas, até à desativação da linha do Tua, era a mais elevada do país, a 850mt de altitude.