Feira do Fumeiro regressa ao sistema presencial com grande expectativa apesar da atualização de preços

A Feira do Fumeiro de Vinhais regressa este ano ao formato presencial, após dois anos em que o certame decorreu via online, devido à pandemia de covid-19, e com “boas perspetivas”, segundo revelou o presidente da autarquia vinhaense, Luís Fernandes, na apresentação do evento, na terça-feira.

Este ano, a 43.ª edição da feira decorre de 09 a 12 de fevereiro, e conta com mais de 500 expositores, 70 deles dedicados ao fumeiro.

“A principal novidade é o facto de voltar a haver Feira do Fumeiro presencial em Vinhais, durante quatro dias. Pretendemos que volte a ser o sucesso que sempre foi.
Temos 70 produtores de fumeiro. Depois temos vários outros espaços, como os espaços gourmet, de artesanato, restauração. No total serão mais de 500 expositores”, explicou Luís Fernandes.

Este ano, o investimento ronda os 260 mil euros, “porque tudo está a aumentar”, representando mais cerca de 40 mil euros do que no último ano.
A inflação afeta, também, o próprio fumeiro, com os enchidos de carne a conhecerem uma “subida ligeira”, segundo o autarca, de cinco euros por quilo. O preço dos enchidos de pão mantém-se inalterado.

“A procura de fumeiro é maior do que a oferta e é uma oportunidade de mais gente se fixar nesta região”, frisou o presidente da Câmara.

Feira representa mais de seis milhões de euros

De acordo com o presidente da autarquia, o evento gera um volume de negócios “superior a seis milhões de euros”.

Por isso, e por ser um setor de grande importância para o concelho, Luís Fernandes recordou que já há dois anos que a autarquia luta pela descida do valor do IVA deste tipo de produtos, que atualemente se situa no escalão mais elevado (23 por cento), por ser considerado um produto transformado.

“Parece-nos que era importante, quando se fala em apoiar as regiões de baixa densidade, que têm estes produtores, uma redução do IVA para valorizar estes produtos de forma a que mais pessoas aproveitassem estas potencialidades e se dedicassem à produção e se fixassem nestes territórios.

Tem que haver uma diferenciação positiva. Estes produtos são taxados a 23 por cento e pedimos que baixasse para seis por cento”, frisou o autarca.

Outro dos assuntos por que o autarca vinhaense promete “continuar a lutar” será pela melhoria da ligação à Gudinha, em Espanha, onde existe já uma estação do comboio de alta velocidade espanhol (AVE), que recebeu mais de 60 mil passageiros desde que entrou em funcionamento, há cerca de dois anos.

“De certeza que vinha mais gente [à feira]. Da estação a Madrid o comboio demora menos de duas horas. Segundo dados da ADIF, desde que abriu aquela estação, já lá entraram e saíram 60 mil passageiros. Muitas delas poderiam vir aqui.

Continuo a acreditar na concretização dessa ligação e vamos continuar a lutar por ela. Temos ainda a ligação entre Vinhais e Bragança mas, estando no PRR, será uma realidade.

Mas esta ligação a Espanha parece-nos cada vez mais fundamental”, sublinhou.

Apoios de 60 mil euros aos produtores e oferta de leitões a quem quiser iniciar a atividade

A Câmara de Vinhais iniciou este ano a entrega gratuita de leitões a quem se queira iniciar na atividade, bem como aos produtores que se comprometam a engordá-los para, no próximo ano, trazer o fumeiro à feira.

“Atualmente, em todas as explorações, temos cerca de 5800 porcas reprodutoras, em cerca de 150 explorações, distribuídas por Trás-os-Montes, Minho e Beira Litoral e Alentejo.

Já há uns anos que os números se mantêm estáveis. No concelho de Vinhais, com o avançar da idade dos produtores, alguns têm abandonado. Começámos a dar dois leitões a quem quiser produzir. Por um lado, comprometem-se a fazer a engorda e a fazer enchidos para a feira do próximo ano e, por outro, estamos a fornecer casais para aqueles que queiram começar a trabalhar com o porco bísaro e com o livro genealógico”, explicou Pedro Fernandes, secretário técnico da raça bísara e líder da Associação Nacional de Suínos da Raça Bísara (ANCSUB).

“Já distribuímos 50 leitões mas estamos à espera que apareçam mais interessados, a seguir à feira. No concelho de Vinhais há cerca de 20 produtores. Há dez anos seriam uns 30”, explicou.

Para combater este decréscimo, a autarquia investe “anualmente, cerca de 60 mil euros” nesta fileira, segundo explicou Luís Fernandes, o presidente da Câmara.
Para além de apoios diretos aos produtores, há, ainda, um apoio pelo abate dos animais.

O abate dos primeiros dois animais e o transporte de e para o matadouro é custeado pela autarquia. Os restantes têm uma comparticipação de 50 por cento. Entre abate e transporte, cada animal pode custar cerca de 80 euros.

Ao todo, para a feira deste ano foram abatidos cerca de 400 animais, pelo que haverá fumeiro em quantidade e qualidade.

Mito do cancro

Pedro Fernandes aproveitou, ainda, para desmistificar algumas ideias que rodeiam o fumeiro, nomeadamente como origem cancerígena, esclarecendo que os estudos apresentados “têm pouca validade científica”.

“O fumeiro de Vinhais não tem nitritos, que são usados na indústria para conservar. E o fumo aqui quase não se usa, pois o fumeiro é mais curado com o frio”, explicou. “Os consumidores podem estar tranquilos”, garantiu Pedro Fernandes.

João Pedro Pais e D.A.M.A.

Este ano, João Pedro Pais e D.A.M.A. são os cabeças de cartaz ao nível do entretenimento, mas realizam-se, ainda, as jornadas técnicas da raça. “Este ano vamos falar dos apoios e novo quadro comunitário; bem estar animal; sustentabilidade ambiental e novas tecnologias”, frisou.

Realiza-se, ainda, o concurso do porco bísaro. “Serve de motivação e de impulso para que  os criadores cada vez criem os seus animais com melhores condições. Este ano estarão a concurso cerca de 55 animais”, frisou.