FUTEBOL

“A minha referência é o Pizzi, revejo-me muito naquilo que é o jogo dele e na sua maneira de estar em campo.”

Publicado por Guilherme Moutinho em Sex, 2020-05-22 14:07

Francisco Miranda, vulgo Kika, cumpre a sua segunda temporada no clube do seu coração, o Grupo Desportivo de Bragança. Aos 23 anos, com passagens por clubes históricos como Porto e Rio Ave, encara o momento em que vive com otimismo, acreditando que a sua maturidade irá ajudar no cumprimento dos seus objetivos.

 

MdB - Tens um passado por clubes históricos do futebol português. Como é viver e conhecer outras realidades do futebol nacional?

Kika - Desde já agradecer por esta oportunidade de poder falar um pouco de mim e do meu percurso no futebol, é uma excelente iniciativa e é com todo o gosto que estou a realizar esta entrevista. É verdade, tive o prazer e o orgulho de ter representado clubes históricos do futebol português. Puxando a cassete ao início, bem la atrás, onde tudo começou, e que tenho o orgulho de poder dizer que representei todas estas instituições, cada uma com o seu contributo para o meu desenvolvimento futebolístico mas principalmente humano. Comecei por dar os meus primeiros toques na bola na Escola De Futebol Crescer, com apenas 6 anos, de seguida rumei ao FC Porto onde tive o prazer de representar este grande clube durante 3 épocas, de seguida regressei a Bragança para ingressar nas camadas jovens do GDB, durante 3 épocas. Na reta final da minha formação, nas duas épocas de juniores joguei no Rio Ave. Esta foi a minha caminhada enquanto jogador de formação, os próximos anos iriam ser uma realidade completamente diferente, mas acreditava que com todos os ensinamentos que obtive anteriormente, o futuro, apesar de difícil, iria ser risonho. Acabado de sair da formação do Rio Ave tive o convite para jogar no Minas de Argozelo, no campeonato nacional de seniores, onde estive durante uma época. Na época seguinte apareceu a oportunidade de representar o Sport Clube de Mirandela, onde no final tive a proposta para renovar por mais uma época, acabando por cumprir apenas mais meia época, defendo então este clube por uma época e meia. Foi na época 17/18, que a meio saí do SC Mirandela para regressar ao Minas de Argozelo, onde terminaria a época, no campeonato de Portugal. Foi no final desta época que surgiu o convite do GD de Bragança, clube esse que represento atualmente e de que faço parte há 2 anos.  Tive a felicidade de viver momentos inesquecíveis e também momentos menos bons, conhecer muitas pessoas e realidades completamente diferentes das nossas, mas foi isso que me ajudou a moldar e a ser a pessoa e o jogador que sou hoje. Estou muito grato a todas as pessoas que fizeram parte do meu percurso até ao dia de hoje. 

MdB - Já viveu muitos momentos no futebol apesar da curta carreira. Qual classificas como melhor e pior momento futebolístico da tua carreira?

Kika - O pior é fácil de escolher, foi a época passada, quando tive a infelicidade de me lesionar logo na pré-época e passar por uma cirurgia no joelho direito, onde me obrigou a ficar fora dos relvados mais de 5 meses. Sei que já o fiz várias vezes pessoalmente, mas quero aproveitar agora para o fazer publicamente. Queria agradecer a todas as pessoas que estiveram envolvidas na minha recuperação, desde a minha família e amigos, à equipa médica que me operou, aos fisioterapeutas, aos meus colegas, equipa técnica, departamento médico e direção, e sem esquecer os adeptos claro, que sempre demonstraram um carinho especial por mim, onde o pude sentir aquando o meu regresso, eles todos foram incansáveis, o meu muito obrigado por tudo. Falando agora do melhor momento. Bem, não consigo escolher apenas um, por isso vou optar por escolher dois. Foi na época 16/17, quando representava o SC Mirandela, quando conseguimos a manutenção no play-off, contra o Tourizense, nos penaltis, num jogo de loucos onde o estádio estava como eu nunca o tinha visto, cheio de gente. Acabei por marcar uma grande penalidade e ter uma participação positiva nesse jogo. Foi um momento que guardo no meu coração até hoje e que me diz muito. O segundo momento foi a época passada, quando fui campeão distrital pelo clube da minha cidade, pelo clube do meu coração, o GD Bragança. Sei que foi uma época complicada em termos individuais, em que tive a infelicidade de me lesionar muito cedo, o que limitou ao longo de toda a temporada, mesmo quando regressei. Lembro-me do último jogo do campeonato, em nossa casa contra o Argozelo, estava um ambiente muito bom no municipal, em que acabámos por festejar todos juntos no final, foi um sentimento de dever cumprido, em termos conseguido voltar a colocar este enorme clube nos campeonatos nacionais. Certamente não falei aqui de momentos incríveis que também passei ao longo dos anos, mas optei por escolher estes dois, curiosamente representando dois clubes rivais.

 

MdB - Foste catalogado como um dos grandes talentos brigantinos da tua geração. O que faltou para não estares, neste momento, noutro patamar?

Kika - É verdade, esperava-se que atualmente estivesse num patamar profissional, tendo em conta as indicações que dei quando era mais novo. Atualmente represento o GDB com muito orgulho e sei que é um clube com uma dimensão considerável no panorama do futebol Português, que pode facilmente cimentar-se nos próximos anos. Acredito que uma das causas por eu não estar noutro patamar seja a falta de regularidade, tive momentos bastante bons mas que não consegui dar continuidade a essas exibições de forma sistemática. Sei que hoje estou um jogador mais maduro e essa falta de regularidade é mais esporádica, e um dos meus objetivos é conseguir fazer exibições positivas todos os jogos. O aparecimento de algumas lesões também atrasaram aquilo que foi a minha afirmação, não estou de todo a dizer que se não fossem as lesões poderia estar noutro nível, não, as lesões fazem parte da vida de um jogador de futebol ou de um atleta de outro desporto qualquer, mas tenho a noção que complicou bastante o meu percurso a nível sénior. E por último, e como muitas pessoas dizem, faltou se calhar aquele “empurrãozinho”, aquela ponta de sorte, aquela aposta efetiva. Olhando para trás, afirmo, com todo o orgulho do mundo, que tive até ao dia de hoje um percurso bonito, com os seus momentos bons, outros menos bons, mas sempre recordados com alegria e a certeza de que aprendi muito e de que o melhor ainda está para vir.

MdB - Estás na segunda época no GD Bragança, como avalia esta experiência?

Kika - Tem sido uma experiência atribulada mas bastante enriquecedora a muitos níveis, tive o azar de me lesionar na primeira época, quase 6 meses, perdendo assim a temporada quase toda. Na segunda temporada, quando estava a ter uma maior regularidade, apareceu a pandemia e o campeonato foi cancelado.  Não foram as duas épocas que eu idealizei, mas acredito que como referi em cima, o melhor está para vir. É muito gratificante representar o clube da minha cidade.

MdB - O GD Bragança atravessa um momento complicado. Como foi lidar com esta situação?

Kika - Na verdade tem sido bastante complicado, como um “jogador da terra”, não estava habituado a ver o clube passar por momentos tão delicados como este, mas tentamos manter a calma e confiamos na direção do clube, que atualmente estão a trabalhar para que esta luta passe. Espero que o GD Bragança ultrapasse esta fase o mais rápido possível, esta cidade é enorme!

 

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