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Povo mostrou o seu carinho ao Pe. Telmo Ferraz na apresentação do livro “Rostos de uma barragem”

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-08-04 10:06

“Estou comovido.” Foi desta forma que o Pe. Telmo Ferraz recebeu o carinho de dezenas de pessoas que fizeram questão de marcar presença na apresentação do livro “Rostos de uma barragem”, que reúne fotografias tiradas pelo sacerdote durante os anos de construção daquele empreendimento, em Picote, e que foi apresentado sábado, no Barrocal do Douro, a aldeia dos trabalhadores da barragem.

O livro, cuja edição foi coordenada pelo professor Henrique Manuel Pereira, reúne, ainda, excertos, em forma de legenda, do livro “O lodo e as estrelas”, da autoria do Pe. Telmo Ferraz.

“Não contava que se pudesse fazer isto. As fotografias foram tiradas por desporto, para eu fixar, para distribuir uma ou outra fotografia por eles. Uma casinha, uma criança a comer. Às vezes eles pediam-me. Foi sem projeção nenhuma, sem nenhuma ideia. O Henrique é que pegou naquelas fotografias e ele é um homem de ideias”, explicou o Pe. Telmo Ferraz ao Mensageiro.

Sobre o carinho do povo, mostrou-se “ comovido”. “Lidei com estas pessoas mas já não as conheço, porque já estou nesta idade. Com o tempo vamos mudando de fisionomia. Eu também mudei, era um jovem até simpático e agora sou um velho...”, desabafou o sacerdote.

Henrique Manuel Pereira lembrou que quando viu as fotografias pela primeira vez, ficou “emocionado”.

“O Pe. Telmo, aqui há uns anos, partilhou comigo um álbum, com cerca de 200 fotografias, a preto e branco, pequeninas. E disse-me que era do tempo do ‘Lodo e as estrelas’.

Comecei a ver as legendas de cada uma das fotografias e senti-me profundamente emocionado ao ver cada uma daquelas fotografias e pensei que era necessário fazer alguma coisa com aquilo.

Depois foi digitalizá-las, tratá-las uma a uma e arranjar excertos do ‘Lodo e as Estrelas’ que dialogassem com elas.

Gosto de olhar para este livro como um álbum de família, como um dedo que aponta a celebração de um património coletivo. São as pessoas, os rostos que levantaram esta barragem, que não ficam na história. São pessoas anónimas que, embora sendo personagens secundárias ou quase figurantes da grande história, são as pessoas que importam, as pessoas que levantaram a barragem. Acho que faz parte da nossa memória, do nosso património coletivo, de Portugal e do mundo”, frisou o investigador.
A obra contou com o apoio do Município de Miranda do Douro, da Junta de Freguesia e da Movhera, a concessionária da barragem.

Helena Barril, a presidente da Câmara de Miranda, considera que é um documento histórico essencial para a vida do concelho.

“Ver este documento, com esta distância, para nós que não éramos nascidos à data da construção das barragens mas podermos refletir sobre aquele período através deste documento é extraordinário”, frisou.

“Ficamos mais ricos hoje com a reunião destas fotografias, com os textos a complementar, porque é um bocadinho da identidade daquele povo que chega até nós desta forma extraordinária. Hoje foi um momento único”, disse ainda a autarca.

Um exemplo de vida

Henrique Manuel Pereira considera que o Pe. Telmo Ferraz é um exemplo. “É como dizia o Monsenhor Adelino, não se entende o Pe. Telmo sem a barragem nem a barragem sem o Pe. Telmo. Se olharmos para o carinho que as pessoas têm por este homem... acompanho-o desde os meus três anos de idade e é sempre uma memória de gratidão que vou encontrando em cada pessoa que o conheceu.

Nada disto teria sido possível sem este verdadeiro dom que é este homem. É o Padre mais Padre que conheço”, frisou.

Já o administrador diocesano, Mons. Adelino Paes, enalteceu o exemplo e o testemunho do Pe. Telmo Ferraz.

“Se não fosse o Pe. Telmo aqui, esta terra seria desconhecida. Ele humanizou, em todos os sentidos, as gentes daqui. Não apenas os engenheiros que referiu mas os humildes, os pobres. Ele estava sempre do lado dos pobres. É, para nós, um expoente de humanismo. É, para nós, um testemunho belíssimo, uma luz que brilha. Faz parte destas terras. Estas fragas, para ele são flores”, disse, considerando o Pe. Telmo “uma inspiração”.

“Eu, pessoalmente, devo a minha vocação ao Pe. Telmo. Ele foi pároco da minha aldeia e eu via o testemunho deste homem. Ele ia lá por casa e eu via o testemunho deste homem, a alegria dele, a transparência, que eu encantei-me pelo sacerdócio. O primeiro apelo que senti foi pelo testemunho do Pe. Telmo. Se sou padre, hoje, devo-o ao Pe. Telmo”, revelou.
 

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