Bragança

Turismo bateu recordes no verão mas futuro é incerto

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-09-29 17:15

O concelho de Bragança mostrou uma recuperação no verão, ultrapassando os níveis registados antes da pandemia, em 2019. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados pela Câmara de Bragança a propósito do Dia Mundial do Turismo, que se assinalou terça-feira, entre abril e junho de 2022, as dormidas e proveitos de aposento atingiram níveis recorde no concelho de Bragança, comparativamente com períodos homólogos, valores superiores aos registados antes da pandemia, na Primavera de 2019.

“O alojamento turístico do Concelho de Bragança registou, no segundo trimestre de 2022, de acordo com dados do INE, um número recorde de dormidas e proveitos de aposento, com respetivamente 29.490 e 1.085.176,00 euros, correspondendo a aumentos de 5,08% e 6,76% comparativamente ao então melhor período homólogo (registado em 2019)”.

A autarquia realça ainda que, para o período em análise, e no que concerne às dormidas, “o concelho de Bragança apresenta uma taxa de crescimento positiva, enquanto que o total de dormidas registadas em Portugal, no segundo trimestre de 2022, continua com valores inferiores aos atingidos em 2019 (-0,2%)”.

No primeiro semestre de 2022, no concelho de Bragança, “o mercado interno contribuiu com 21.376 de dormidas (72,49%) e os mercados externos (com destaque para turistas oriundos da Alemanha, Brasil, Espanha, França, Reino Unido e Países baixos) totalizaram 8.114”, destaca a autarquia brigantina.

Segundo o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, “estes dados confirmam que a pandemia foi uma oportunidade para os territórios de baixa densidade e, de forma particular, para Bragança e validam a estratégia de promoção territorial iniciada em junho de 2020 pelo Município de Bragança, em plena pandemia, através da implementação da campanha de marketing territorial intitulada “Bragança. Naturalmente!”, com uma comunicação assertiva e focada em promover Bragança como um destino seguro, autêntico, natural, criativo e gastronómico, onde se criam memórias que perduram para sempre”.

Associação Comercial destaca números positivos

Maria João Rodrigues, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Bragança (ACISB), sublinha que em 2022 houe “mais turistas” na região do que em 2019.

“Tivemos mais turismo do que em 2019 e tivemos, efetivamente, os hotéis e a restauração praticamente lotada durante o período de verão. Tivemos muitas mais pessoas a ir a restaurantes, nos hotéis e no turismo rural, nos alojamentos locais, do que até então, já para não falar nos anos de 2020 e 2021”, disse ao Mensageiro.
Por outro lado, reconhece que houve um “aumento da faturação em parte pelo aumento dos preços”. “As matérias primas estão muito mais caras. Mas aumentou substancialmente”, frisou.

A presidente da ACISB lamenta, no entanto, a “pouca adesão” dos empresários locais a algumas iniciativas, como reuniões setoriais.
“Cada vez que se promovem reuniões ou encontros com unidades hoteleiras ou reuniões temáticas e setoriais com restauração, temos fraca adesão por parte dos empresários”, aponta.

Marcel Silveira, dono do maior empreendimento turístico na região, o Hotel S. Lázaro, reconhece que este verão as taxas de ocupação subiram.
“O início do ano foi muito mau. De março até final de agosto foi muito bom, próximo de 2019. Em termos de dormidas foi muito parecido. Em termos de faturação foi um pouco mais, porque o preço médio também subiu.

A taxa de ocupação foi de cerca de 30 por cento, quando em 2019 foi de 20 por cento”, revelou. Já o mês de agosto situou-se nos 68 por cento de ocupação na sua unidade.

“Foi acima do que esperávamos, principalmente porque janeiro e fevereiro muito maus. Janeiro foi o pior de sempre. A partir de março houve uma inversão muito grande. Mas muita gente que veio a Bragança foi em projetos que eram para ser feitos e foram cancelados por causa do covid e concentraram-se este ano. Pode não ser uma tendência que se mantenha no próximo ano”, disse o empresário.

Já Elisabete Raimundo, do hotel Tulipa, no centro da cidade, revela que o primeiro semestre foi bastante fraco e que o crescimento só se notou verdadeiramente em agosto.

“Só começámos a chamar verão a partir de agosto. Até julho foi complicado. O inverno ainda se passou com covid e depois custou a arrancar. Agosto e setembro já foi muito bom. Agosto foi fantástico. Em setembro baixámos os preços quando habitualmente mantemos os preços de agosto. Tivemos de nos adaptar à procura. Mas foi muito bom comparativamente com inverno”, revelou.

Otimismo não tocou a todos

Já Manuel Batista, que tem uma unidade de turismo rural em Formil, perto de Bragança, com seis quartos e capacidade para 16 pessoas, para além de uma enoteca e uma loja de vinhos e produtos locais no centro da cidade, mostra-se dececionado com a conjuntura e diz que teve mais procura durante a pandemia do que este verão.
“Em termos de faturação, talvez tenha sido um pouco melhor, até porque abrimos a loja este ano. Em termos de ocupação na unidade, foi inferior aos anos da pandemia. E já era algo que se previa, pela análise que fui fazendo. Nota-se uma tendência de retorno aos locais tradicionais de destino turístico. E Bragança fica fora dessas rotas.
Nota-se esse retorno para o Algarve, Costa Vicentina, estrangeiro, e o turista que tivemos durante a pandemia, que era 80 por cento português, deixou de procurar estes destinos com menor densidade populacional”, disse. E aponta algumas críticas. “Não se previu isso mesmo, não se divulgou, não se fez qualquer ação de marketing para fixar esse mercado. Aquilo que foi feito foi aproveitar a janela de oportunidade durante a pandemia mas não se preveniu o regresso à normalidade”, sublinhou. No seu caso, “o verão foi péssimo, excluindo o mês de agosto, em que tivemos uma taxa de ocupação que rondou os 75 por cento”. “Nalguns períodos tivemos ocupação a cem por cento mas isso não foi constante. Julho foi horrível, com uma taxa de ocupação a rondar os 25 por cento e setembro a mesma coisa. Um pouquinho melhor do que julho mas a taxa de ocupação andará nos 35 por cento”, frisa.

 

 

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