Terra Fria

Vinhais e Bragança cancelam feiras da castanha mas produtores temem é o fim dos magustos

Publicado por AGR em Qui, 2020-09-24 09:49

O anúncio foi quase em simultâneo mas já era esperado. A Câmara Municipal de Vinhais e a Câmara Municipal de Bragança cancelaram dois dos seus maiores eventos sazonais, a Rural Castanea e a Norcaça, Norpesca e Norcastanha, respetivamente, previstas para final de outubro e início de novembro, devido à pandemia de covid-19.
“A Câmara Municipal de Vinhais informa que não se realizará a XV edição da Rural Castanea, por não se encontrarem reunidas as condições de segurança, de forma a cumprir-se as regras emanadas pela Direção-Geral da Saúde, dado que se trata de um evento de grande dimensão que, consequentemente, iria gerar ajuntamentos de pessoas de várias localidades, o que se pretende evitar perante a evolução da pandemia”, lê-se no comunicado da autarquia vinhaense.

“A Comissão Organizadora da Feira Internacional do Norte – Norcaça, Norpesca e Norcastanha, em consonância com a deliberação da CIM-TTM, decidiu, por unanimidade, cancelar a edição da Feira Internacional do Norte – Norcaça, Norpesca e Norcastanha 2020, prevista para 29 de outubro a 1 de novembro.
Esta comissão entende que, atendendo à atual crise sanitária, à entrada do estado de contingência desde o dia 15 de setembro e à incerteza da evolução epidemiológica do Coronavírus Covid-19, não existem condições para realizar, em segurança, um evento que atrai muitos visitantes e envolve uma grande diversidade de atividades, grande parte em espaço fechado”, escreveu a autarquia brigantina.

 

Produtores compreendem decisão

 

Do lado dos produtores, não há muito a dizer. “Em termos de efeitos diretos para os produtores não prevemos grandes repercussões e dada a atual conjuntura parece-nos que o mais cauteloso e sensato será o cancelamento dos eventos, de forma a assegurar a saúde e o bem estar dos proprietários. Preocupa-nos mais o eventual encerramento de canais de comercialização”, disse ao Mensageiro Sónia Geraldes, Grã-Mestre da Confraria da Castanha.

“Olhando para o cenário europeu, sobretudo, fala-se no encerramento eventual de algumas fronteiras. Tememos que esse encerramento se venha a verificar.
Eventos como magustos e os consumos nas nossas feiras a nível ibérico perspetiva-se uma quebra de consumo, esperemos que pontuais e que os vendedores de rua possam continuar a trabalhar”, frisou a mesma responsável.

Já Carlos Silva, presidente da Proruris, cooperativa de Vinhais que inclui um agrupamento de produtores, aponta como impacto a diminuição de divulgação do produto.
“O cancelamento dos eventos de promoção da castanha a nível local tem o impacto da diminuição da divulgação do produto. Tem algum impacto na comercialização mas pouco. Tem mais impacto o cancelamento de magustos a nível nacional.

Se juntarmos a diminuição da procura na próxima campanha, do consumo em fresco, pode ter um impacto importante.
A Feira da Golegã, por exemplo, que consome muita castanha, foi cancelada. A isso junta-se a falta de magustos e convívios, que leva à diminuição do consumo em fresco (cerca de 20 por cento da produção nacional)”, explicou. O mesmo responsável aponta para a venda direta de castanha nas feiras na ordem das 12 toneladas.

 

O problema do IVA

 

Carlos Silva aponta, ainda, um outro problema, que passa pela tributação máxima da castanha congelada. “Há um fator importante que tem a ver com o facto de a castanha congelada ter o IVA a 23 por cento, o que é inaceitável quando comparada com os legumes, que tem IVA a seis por cento. Há um problema fiscal que faz com que o armazenamento e a venda congelada encarece bastante a matéria prima.  Uma forma de ajudar a produção de castanha seria a redução do IVA. Por exemplo, um sumo de fruta, com aditivos, tem IVA a seis por cento e a castanha, sem aditivos, é a 23 por cento”, explica.

O problema foi já colocado na Assembleia da República, ao Ministério da Agricultura e ao das Finanças.

Por isso, Carlos Silva aponta como principais prejudicados com estes cancelamentos os setores da hotelaria e restauração.

 

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