A opinião de ...

As Autárquicas e as Vitórias Antecipadas

A seis meses das eleições autárquicas, já se conhecem os vencedores no distrito de Bragança. Falta apenas a Comissão Nacional de Eleições validar o acto, dá-lo como encerrado e disponibilizá-lo à comunicação social.
Por muito que se estabeleçam semelhanças entre o futebol e a política, nomeadamente no lado pouco escrutinado destes dois mundos, há uma diferença de substância entre ambos: no primeiro, o carácter empolgante do espectáculo, apaixonante, belo e poético reside na imprevisibilidade do resultado de cada jogo, seja um Benfica – Chaves, seja um Porto – Sporting. No segundo, a vitória, aprioristicamente confirmada, resulta, além de outros factores, da personalidade do candidato e da obra por este feita.
Vistas as coisas nesta perspectiva, importa dizer algo sobre o “campeonato político” onde participa a cidade de Bragança, que terá a sua grande finalíssima no dia 1 de Outubro de 2017, opondo o “campeão em título”, Hernâni Dias, ao candidato do PS, Carlos Guerra.
      Vaticinada a reeleição de Hernâni Dias, o que devo concluir, como cidadão e munícipe atento, é que, ao contrário do pressuposto da personalidade – é indiscutivelmente uma excelente pessoa e um verdadeiro cavalheiro -, o requisito da “obra feita” não se confirma, o que nos põe perante um facto que foge à norma, mas que a Ciência Política certamente conseguirá explicar.
Não deixando de concordar com aqueles que dizem que a cidade de Bragança está hoje mais bonita do que há uns anos, confesso que me sinto muito desagradado pelos muitos atentados arquitectónicos e urbanístico - rodoviários que se cometeram ao longo de mais de 20 anos sobre ela. Foram erros atrás de erros. Foram obras que, numa cidade pacata como a nossa, não se justificavam. Foi a “criminosa” intervenção da emblemática e imponente Avenida do Sabor. Foi a completa adulteração da zona histórica que, tendo sido nela gastos milhões de euros para a revitalizar, no âmbito do Programa Polis, está hoje mortificada.
Bragança, com um enorme potencial turístico – uma condição assegurada, entre outras, pelo majestoso e altaneiro castelo e pela Domus Municipalis -, estranhamente, não consegue atrair o número suficiente de visitantes compatível com uma cidade que ostenta o rótulo de “inteligente”. Tem vindo a perder população a um ritmo vertiginoso. Não fora a Faurecia e o IPB a dar um certo dinamismo à cidade, o cenário seria catastrófico.
Publiquei um texto/carta – aberta, há mais de um ano, dirigido ao Dr. Hernâni Dias, chamando a atenção para um conjunto de obras feitas na capital de distrito – autênticas aberrações da responsabilidade do seu antecessor – que, causando enormes transtornos aos munícipes e a quem a visita, em termos de mobilidade rodoviária, tornando-a mais confusa, labiríntica e pouco funcional, podiam ser revertidas, sem gastar muito dinheiro. Como já imaginava, a dita “reclamação” não foi tida em conta.
Neste momento está a ser ampliada a zona industrial de Bragança, nas Cantarias - um projecto de 5 milhões de euros. A polémica com esta infra-estrutura não tem a ver com a iniciativa em si, porque, diz-se, se justifica, mas com o facto do alargamento ser em direcção à cidade, a norte, quando o recomendável seria, em termos ambientais, para sul, que é área rural, não confluente com a zona de expansão da cidade.
 Assim, face ao mau desempenho da “equipa da casa”, não me admirava nada que houvesse surpresa no “jogo do título”, em Outubro.
 

Edição
3627

Assinaturas MDB