A opinião de ...

Ética Profissional: Aquilo que não se deve fazer

 
A vida profissional de qualquer individuo é regida por um conjunto de princípios e valores estabelecidos pela sociedade, os quais, em regra, encerram carácter universal, pelo inegável valor axiomático. Diz-se, pois, que é bom ou mau profissional todo aquele que age de acordo ou na subversão de tais princípios, contribuindo para a boa ou má imagem da instituição que representa.
Tenho para mim que ninguém é suficientemente bom ou mau (profissional) para se afigurar como a” imagem” (pela positiva ou negativa) da sua entidade patronal, seja pública ou privada. Isto é, perante um comportamento reprovável de um indivíduo, episódico ou frequente, que só ao próprio o vincula, é injusto e perigoso generalizar-se.
Esta introdução serve de ponto de partida para a denúncia de dois episódios infelizes, protagonizados, em contexto hospitalar, por dois elementos da respeitada instituição Bombeiros Voluntários, que, carregando o epíteto de “soldados da paz”, têm como divisas o espírito de missão, a heroicidade, o altruísmo, a vida por vida, a solidariedade, etc., São “voluntários” que, antes de abraçarem a “causa”, deveriam ter sido submetidos a testes psicotécnicos, para avaliação das aptidões e dos traços de personalidade para o desempenho da função que exercem - no pressuposto de que um hospital não é a tasca da esquina, nem as pessoas são objectos.
Há coisa de dois meses, estava eu com um familiar na urgência do Hospital de Bragança, quando, de súbito, um bombeiro de uma certa corporação do distrito, em plena sala de espera, repleta de gente, se dirigiu, nos seguintes termos, a uma senhora que acompanhava uma idosa, vinda de um lar de idosos, que lhe tinham acabado de dar alta médica: “Eu recuso-me a transportar a mulher, se não me garantir que o transporte é pago hoje”. “Da última vez que fiz o serviço, não me pagaram, porque quando lá cheguei já estava tudo fechado”.
Uma cena verdadeiramente lamentável, reveladora da falta de sensibilidade e da má formação moral e cívica de quem a ela se prestou. Nem a paciente, que estava naturalmente ansiosa por chegar a “casa”, nem a funcionária do lar, por razões distintas, não tinham que ser expostas àquela humilhação, nem tinham que saber o que está protocolado entre as duas instituições. Estes assuntos devem ser tratados nos locais próprios e de forma recatada.
No mesmo hospital, nesse mesmo dia, perguntava um bombeiro ao seu homólogo, em voz alta e numa indelicadeza de pasmar: “Ainda estás à espera do velho?!”.
Embora chocado com estas duas situações, jamais seria levado a pensar que estes “soldados” se confundem com o emblema que representam. Se assim fosse, ficaria comprometido o sentimento de gratidão que todos nós, cidadãos, temos para com os bombeiros, pela nobre e arriscada missão a que diariamente se entregam.
Aproveito o tema para deixar aqui duas notas importantes:
Na sequência do último artigo que escrevi, titulado “O caos na Urgência Hospitalar de Bragança”, fui abordado por algumas pessoas que me fizeram chegar a informação de que o pessoal da Urgência tinha ficado indignado comigo pelo que nele foi vertido. Em minha “defesa”, declaro o seguinte: só por leitura desatenta se pode concluir que pus em causa o profissionalismo e a dignidade de quem quer que fosse – porque esse não é o meu registo. Tão - somente critiquei o critério de triagem, por me parecer dúbio e incongruente. 
Em nome de uma pessoa com quem tenho ligação parental, internada recentemente durante nove dias no Hospital de Bragança, queria deixar o público agradecimento a todos quanto afável e gentilmente lhe prestaram cuidados. Desde o atendimento na urgência ao internamento no 4.º piso, passando pela sala de Observações, os profissionais envolvidos, auxiliares, enfermeiros e médicos (de que destaco, sem desprimor para os demais, os incansáveis Dr. Nelson, pneumologista, e a Dra. Elisabete, especialista em doenças auto – imunes), honraram a função pública e, em particular, a “camisola” que vestem.
O ser humano não é perfeito. Os bons exemplos serão sempre os meus “motivos de reportagem” predilectos.

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