A opinião de ...

A Festa (Negócio) dos Anos 80

Numa dada sexta – feira do mês de Julho de 2016, “ofereceram-me” quatro bilhetes para ir à Festa dos anos 80, realizada no jardim do Museu Abade Baçal. Feita a distribuição dos ingressos pelos meus três amigos, à entrada (munidos do “livre trânsito”), apercebemo-nos de que aquilo cheirava a embuste: os responsáveis da dita, donos de um afamado bar nocturno desta cidade, cobraram 5 euros pela entrada, com “direito” a pagar 2 euros por uma cerveja, 1,50 euros por uma água sem gás e 7,50 euros por um de gin tónico, cuja bebida alcoólica era pouco mais do que o cheiro.
Um ano depois, e porque a turba multa ficou eufórica com a ideia, o evento repetiu-se, no mesmo local, com os mesmos organizadores, com o mesmo entusiasmo dos participantes, mas com uma diferença, embora não tenha lá estado para a testemunhar (à primeira cai quem quer…!): desta vez pagavam-se 10 euros pela entrada.
Sendo eu adepto confesso de festas e de convívios e, acima de tudo, dado a saudades idealizadas, sou, porventura, ainda que possa soar a contraditório, um dos raros crítico (sentindo-me quase isolado nesta “luta”) desta reunião nostálgica, não pelo propósito, que é excelente, mas pelo negócio em que se transformou.
Quem, como eu, viveu intensamente os anos 80 de Bragança sabe que essa época está intimamente ligada ao espaço físico mais emblemático da cidade: a Praça da Sé e as zonas circundantes em que ela se ramifica. Era para lá que os jovens de então, estudantes e não estudantes, convergiam, fazendo do café Cruzeiro, do Chave de Ouro, do Flórida, do Progresso, da pastelaria Poças, do Dragão, do Moleiro, do café da Torralta, do Floresta, do Goalkeeper, do Arcádia, do El Dourado, do salão de jogos Flórida, da tasca do “Berbo”, do Ponto de Encontro, do Lisboa, do Avenida, do Príncipe Negro, do Tulipa, etc., as grandes salas de convívio, animação e paródia.
Quem viveu os anos 80 passou obrigatoriamente pelas discotecas Bruxa, Moderno, Cruzeiro, Cítara, NAC, REP, pelos bares Trovas, Bô de Baixo e Bô de Cima – os três bares onde, nessa década, em Bragança, se promoveu o tão apreciado conceito de “café – concerto”, com as memoráveis prestações dos Sete Mares e do Luís Neves.
Quem viveu os anos 80 teve o prazer de conhecer os grupos musicais da terra, que tão animadamente abrilhantavam as festas em que actuavam, e nos faziam acumular pó na cabeça nos arraiais por essas aldeias fora: das nossas memórias fazem parte o Franklim do Nascimento; o Melotrup do Pita, do Luís Afonso, do Paulo Xavier, do Luís Gordo e do Tó Corredeira; o Suspense do Filipe Lobo, do Tó Ferreira, da Isabel e do Zézé Amaro.
Celebrar, pois, dignamente os anos 80, recordando os símbolos (lugares e pessoas) que lhe estão associados, só num cenário que tenha como palco a Praça da Sé, com tasquinhas de comes - e - bebes espalhadas pela dita zona histórica, onde todos os comerciantes do ramo da restauração “atingidos” pudessem lucrar com o evento, dividindo, desta forma, o bem pelas aldeias (e não apenas por uma, sempre a mesma!), pela dinâmica que poderia envolver.
A cereja no topo do bolo seria, sem dúvida, que essa festa, que devia acontecer na primeira semana de Agosto (os emigrantes também têm memorias da juventude), conseguir juntar num único palco todos esses intérpretes da música de baile. A eles, tenho a certeza, agradar-lhes-ia a ideia, e faziam-no desprendidamente. Nós, além de honrados com o momento inédito, daríamos outro sentido ao “património” anos 80.
O desafio está lançado.

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