A opinião de ...

A emergência está em estado de emergência

Em janeiro deste ano, o Mensageiro de Bragança denunciou a dificuldade que a Unidade Local de Saúde do Nordeste enfrentava em manter o serviço de obstetrícia plenamente funcional durante sete dias por semana.
O assunto pareceu ficar resolvido depois desse alerta.
Poucos meses depois, o resto do país acordou para essa realidade, já aqui abordada em editorial anterior.
Agora, com o pico do verão à espreita, em que o território nacional ganha mais residentes durante o mês de agosto e em que os bombeiros são chamados a acorrer a múltiplos incêndios, o sistema de emergência pré-hospitalar começa a dar sinais de estar a rebentar pelas costuras.
À falta de médicos obstetras juntou-se a reforma de vários clínicos de medicina geral, o que deixou milhares de pessoas no distrito de Bragança sem médico de família e sem outra solução que não recorrer ao 112 e às urgências dos hospitais, que ficam entupidas com casos que habitualmente se resolveriam nos centros de saúde.
Este aumento de procura começa a deixar as verdadeiras emergências (tipicamente situações de trauma, como acidentes) sem a devida cobertura e com as vítimas a terem de esperar mais tempo para serem assistidas.
Ora, já se sabe que, numa situação de emergência, tempo é coisa que as vítimas podem não ter e a demora de alguns minutos pode representar a diferença entre ficar com sequelas graves ou não, ou até entre a vida e a morte.
Com os meios a serem alocados a partir de um escritório em Lisboa, acontecem problemas como o que sucedeu numa aldeia do concelho de Torre de Moncorvo, em que um acidentado teve de esperar mais de uma pelo socorro, que foi enviado de Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda.
A questão é que as estradas do Nordeste Transmontano não são desenhadas em linha reta. Apesar de nos mapas as distâncias poderem parecer curtas (entre Figueira de Castelo Rodrigo e Peredo dos Castelhanos são cerca de 60 quilómetros), as estradas da região, plenas de curvas e desníveis, levam a um aumento substancial do tempo necessário para as percorrer.
O território não é todo igual pelo que tratar o Nordeste Transmontano como a planície que se vê a partir de Lisboa é condenar os transmontanos a cuidados piores do que os seus compatriotas de outros pontos do país.
Mas os direitos são iguais para todos os cidadãos, em todos os pontos do país, tal como a cobrança de impostos.
O INEM já veio anunciar um reforço de meios mas a verdade é que apesar dos problemas vividos no distrito de Bragança, nada está previsto para esta região.
Quantas mais pessoas precisam de morrer até os responsáveis acordarem para o problema?

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