A opinião de ...

A proximidade em tempos de afastamento

O ano de 2021 fica marcado por dois atos eleitorais: um já decorreu, das eleições Presidenciais, e outro previsto para outubro, das eleições autárquicas.
Esta é uma das eleições de maior importância para o povo português e o que, tradicionalmente, mais paixões gera.
Os motivos são vários mas radicam, sobretudo, na proximidade.
Desde logo, na escolha dos órgãos de proximidade que vão gerir os nossos destinos por mais quatro anos. Das Câmaras Municipais aos nossos representantes nas Assembleias Municipais e, sobretudo, nas Assembleias de Freguesia, de onde são eleitas as Juntas de Freguesia, o órgão de soberania mais perto do povo.
Proximidade, também, porque muitos candidatos, sobretudo nas freguesias do mundo rural, nos são muito próximos. Conhecidos, amigos, familiares. Estas são mesmo eleições que, muitas vezes, tendem a dividir famílias ao meio. Também é um lugar comum o candidato a presidente de junta contar espingardas entre as famílias mais numerosas. Num meio rural cada vez mais despovoado, cada voto conta mais.
Ora, se a campanha das Presidenciais foi feita, sobretudo, nas televisões e nos jornais, através de debates e de algumas ações de campanha pouco vistosas, nas autárquicas a história é diferente.
Se já não há gente para a grandes mobilizações a que se assistiu nos anos da década de 1980, as 'cordas' pelas aldeias são tradicionais e todo o candidato que se preze tem de percorrer todas as freguesias do concelho a que se candidata, com maior ou menor rapidez.
Mas os tempos que vivemos são tempos em que nos é pedido o derradeiro sacrifício. Não da proximidade mas do distanciamento. Como afastamos a proximidade?
Por outro lado, há um ano que o país e o mundo estão parados. Há um ano que muito do trabalho autárquico foi reduzido à gestão de crise provocada pela pandemia, um cenário que até outubro não deverá mudar, cortando aqueles que foram eleitos em 2017 da poder implementarem os seus projetos em quase metade do mandato.
Portanto, que eleições teremos daqui a oito meses? Que campanha podemos esperar com estes condicionalismos, sobretudo se o processo de vacinação da população continuar a atrasar-se, fazendo resvalar no tempo também a tão ansiada imunização de grupo? E que imunização de grupo se conseguirá quando começam a multiplicar-se as diferentes estirpes do mesmo vírus?

Uma coisa é certa, a haver eleições autárquicas em outubro (as vozes a pedir o adiamento são cada vez mais), serão umas eleições muito diferentes daquilo a que estamos habituados de umas autárquicas.

Edição
3819

Assinaturas MDB