A Madeira ainda é um «Jardim»
Nota prévia: faleceu o Senhor Inocêncio Pereira, ex-Director e Administrador de Mensageiro de Bragança. Fez um notável trabalho de reabilitação e de consolidação do Jornal, sendo sempre fiel à Diocese e ao respectivo projecto cristão católico. À família, sobretudo à filha, os nossos sinceros sentimentos pela enorme perda.
Ocorreram hoje as votações para a Assembleia Regional e para o Governo Regional da Madeira. O Partido Social-Democrata venceu sem maioria absoluta mas quase com ela pois 23 deputados em 24 necessários é quase maioria. Naturalmente, será o Centro Democrático e Social (CDS) com o seu deputado a formar a maioria mas tal dependerá dos acordos que vierem a ser constituídos entre os dois partidos. Só que já não vivemos no período ideológico da democracia e até pode ser outro partido a formar a maioria com o PSD.
A fragmentação do espectro político-partidário obriga a entendimentos. Em Portugal e em muitos outros países onde a democracia é o regime político adoptado, sendo erradamente concebida só como método eleitoral para a designação dos governos. Estamos, cada vez mais, a perder as referências da verdadeira democracia. É pena porque ela exige diálogo e respeito por deveres e direitos. Muitos, só conhecem os direitos. Poucos, cumprem os deveres.
Tal como cá, quando o Chega surgiu, na Madeira, foi o Juntos pelo Povo (JPP), um partido com pouca coerência ideológica, a ficar em segundo lugar, com 11 deputados, relegando o PS, com 8, para terceiro, e o Chega para quarto, com três.
Verificou-se uma penalização dos partidos que derrubaram o Governo Regional preferindo os eleitores dar o benefício da dúvida ao partido que o suportava, sobretudo ao líder, Miguel Albuquerque, apesar das infracções que lhe são imputadas na imprensa. Quererá isto dizer que, na Madeira, os eleitores já interiorizaram que ser arguido não é ser ainda acusado? Os resultados eleitorais parecem indicar que sim.
O cenário de «perdão» pelas infracções invocadas na Imprensa bem pode repetir-se no Continente em 18 de Maio se os eleitores responsabilizarem os partidos da Oposição ao ex-actual Governo pela queda recente deste. Neste caso, os eleitores dariam o benefício da dúvida ao actual Primeiro-Ministro apesar de ele não se ter portado como seria desejável na perspectiva de uma cidadania responsável.
Os factos sociais nunca têm nem uma só causa nem um só culpado. O ex-actual Governo quis provocar eleições e a Oposição mordeu o isco. Na minha perspectiva, sobretudo o PS, conduziu muito mal a votação da Moção de Censura e da Comissão de Inquérito e pode ser responsabilizado por isso. Ou não, se os eleitores do Continente agirem de modo diferente dos da Madeira. Dia 18 de Maio, saberemos.
Em tempos de oposição, os partidos oposicionistas tendem a ser mais desorganizados no seu pensamento e na sua acção mas devem ter mais cuidado porque a Oposição também faz parte das decisões e tende a ser avaliada em função do seu comportamento face às mesmas.
Oxalá tenhamos um dia pacífico e feliz.