A opinião de ...

Paz, solidariedade e esperança

No dia 8 de Dezembro de 2024, o Papa Francisco assinou e mandou emitir a 58ª mensagem papal para o dia 1 de Janeiro, celebrado pela Igreja Cristã como Dia Mundial da Paz, coincidindo em 2025 com o Jubileu da esperança num futuro mais fraterno e melhor para todos e para todas.
Padres e bispos, nas suas homilias e nos seus textos, têm focado esta mensagem do Papa, com vista à consolidação de uma cristandade mais autêntica e mais actuante em busca do bem comum.
O Papa Francisco não se cansa de apelar à paz, à solidariedade, à responsabilidade e à justiça nas relações sociais e nas relações dos homens com a natureza. Para este Papa, nada é feito com justiça se não se dirigir à humanidade toda e se não tiver em conta o acesso equitativo de todas as pessoas aos bens da natureza e da civilização.
Esta é porventura a mensagem mais radical e mais utópica deste Papa: a igual dignidade dos homens, neste termo incluídas as mulheres. Francisco coloca-se sempre na perspectiva do representante de Deus e de Jesus Cristo para dizer-nos constantemente que devemos considerar-nos uns aos outros como irmãos verdadeiros sem exclusão de ninguém tendo em conta que as acções de uma pessoa devem pressupor e englobar as acções de todas as pessoas numa universalidade responsável.
Aqui está a grandeza e a limitação da mensagem papal. Só a valoriza como substantiva aquele que aceita e vive segundo a mensagem de Jesus Cristo e respeita o princípio da sua representação terrena pelo Papa da Igreja Cristã Católica. Ou seja, a mensagem não me parece suficientemente universal para abranger todos os credos e pressupõe que os que a aceitam sejam pessoas de boa vontade. O que implica que, mesmo para muitos cristãos, seja uma mensagem de alguém a pregar no deserto porque pouco enraizada nos problemas da vida e da sociedade.
E, no entanto, Francisco enumera e aborda todos os grandes problemas actuais da humanidade, desde a ecologia aos egoísmos que se concentram constantemente na consolidação de poder e de riqueza sem ter em conta os problemas humanos que afectam a maior parte da humanidade, desde a escassez de recursos, ao empobrecimento sistemático das populações dos países cada vez mais empobrecidos conduzindo a uma cada vez maior expansão da pobreza.
Francisco não ignora nenhum dos grandes problemas do mundo actual, estabelece-lhes implicações sistémicas mas não dá o salto necessário ao nível da organização do poder mundial: uma sociedade em jubileu e em sínodo necessita de um governo a nível mundial. Francisco sugere apenas que os homens e os governos se concertem uns com os outros para resolver os problemas de todos. Parece uma verdade superficial mas talvez o Papa não possa ir mais longe.
A esperança numa irmandade e numa fraternidade universais dominam o discurso do Papa dando voz a todos os desprotegidos. E, para bom entendedor, meia palavra basta.

Edição
4020

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