A opinião de ...

Cimeira da Lajes: 11 anos depois

 
Há precisamente onze anos, estava montado nas Lajes um encontro mediático nunca antes visto, só comparável (salvaguardando as distâncias e os meios) com a cimeira de Dezembro de 1971, entre Nixon e Pompidou. Televisões, jornais e agências de todo o mundo tinham rumado à Terceira, nas horas antes e tudo nas imediações servia de palco para transmissões em directo, desde que tivesse por fundo a imensa pista das Laje. Portugal coube o papel de anfitrião do encontro entre Bush, John Major e José Maria Aznar e serviu para legitimar a intervenção dos EUA no Iraque, o que aconteceria três dias depois. Durão Barroso, num golpe de diplomacia à medida, não quis ficar arredado da oportunidade de poder participar, ainda que como assistente, das grandes decisões da política mundial (a reunião se não acontecesse nas Lajes seria certamente em Espanha). Por questões de segurança, os Açores eram o lugar certo. E Durão Barroso teria o seu prémio: a presidência da Comissão Europeia.
Onze anos depois fica o quê? O Iraque foi invadido sob suspeita de possuir armas de destruição maciça (o que nunca ficou provado), Saddam liquidado, cem mil iraquianos mortos e mais cinco mil das forças aliadas. A imposição de um modelo democrático de governo e de sociedade está longe de ter sido conseguido. A seguir, veio a “limpeza” de Bin Laden. Agora que os interesses económicos na zona estão relativamente controlados, quando o perigo ameaça mais na Ásia e não há fundos para estar em todo o lado ao mesmo tempo, as Lajes “diminuem” de importância, mas não justificam o abandono total. O importante é manter o estatuto de base militar para que possa ser reactivada no momento em que se verifique novo desequilíbrio no Médio Oriente.
Para compensar a redução de efectivos, fala-se, pouco consistentemente, em instalação de empresas americanas no perímetro militar, ocupando edifícios que vão ficar vazios.
 Organizavam uma visita de um grupo de empresários próximo do governo americano alegadamente especializado na reabilitação da economia de zonas onde se desactivaram bases americanas, de quem se aguarda um relatório. A economia da Terceira vai levar, por essa via, um trambolhão difícil de contabilizar, que vem na pior altura de crise económica generalizada.
Onze anos depois, ganhamos o quê?
Os poderosos continuam à frente dos destinos do mundo e na Ilha Terceira espera-se a melhor resolução para a continuidade dos americanos das Lajes.
 
Nota: texto adaptado por deferência do Diário Insular, Açores.

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3487

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