Dos Confins do Tempo…
Gosto de olhar, observar para além do ver é paixão que transporto agarrado às peles que me vestem o ser. Na infância, no Felgueiras meu berço, todos fabricávamos a torcida que haveria de fazer girar o pião, objecto mágico que enchia os bolsos da rapaziada. Um carrinho de linhas, gasto e de madeira, quatro pregos e um arame, eis os custos de uma máquina de produção de torcidas. A linha eram os nagalhos ou atilhos que já ninguém queria, atados num emaranhado de nós. Um bom abafador, de bico grosso, crismado com uma taxa no rabo, fazia tremer a moçarada dos piões de bico fino, era a guerra dos rachadores contra os picadores.
Claro que me excitava toda aquela bulha mas o êxtase, o aguçar da mente, o fervilhar da imaginação, o que me esbugalhava era mesmo a rotação, a dança, o giro. As listas em cores vivas que enfeitavam este lúdico brinquedo hipnotizavam-me no cativo do olhar durante o mágico rodopio.
No caminhar, prendo-me na observação de tudo que me vai envolvendo, do perto e do longe, da minucia e da generalidade. Quando me apercebi que habito um astro dançador, um pião gigante, que nunca se cansa, imaginei qual o tamanho da torcida e do carrinho de linhas, dos pregos e do arame, para colocar em marcha este gigante dos ares.
Aqui e acolá vou lendo noticias das descobertas, das explicações para o que, mesmo defronte dos narizes, apenas alimentam as indiferenças dos cegos que não querem ver.
Porque tive o privilégio de ter conhecido dois ilustres investigadores da Universidade do Porto, transmontanos inteiros, Professor Eurico Pereira e Eng.º Pedro Teiga, fiquei a conhecer o Umbigo do Mundo, fantasiosa designação para a colisão de dois Super Continentes geradora de Gondoana, pai do actual mapa mundo. Muitas marcas da colisão podem ser observadas nos arredores de Macedo de Cavaleiros, nos picos de Morais e nos vales de Balsemão, os famosos diques.
Sabe-se, conhecimento comum, que em tempos que já vão, este astro que nos embala tinha um único mar a rodear um só Continente, o Pangeia.
Mas, há sempre um mas para os curiosos, os que procuram os saberes que outros adquiriram pela investigação e que humildemente transmitiram, que existiram várias Pangeias, os mares e a terra dançaram, quais piões, ao longo da imortalidade dos tempos.
Três Hiper Continentes boiaram no magma abraçados por um único oceano: Pangeia entre 200 e 540 milhões de anos ; Panótia entre 540 e 600 milhões de anos ; Rodínia há mais de mil milhões de anos.
Pois bem, precisamente em Trás-os-Montes, em Bragança, no cabeço do Tojal dos Pereiros, nas Cantarias, numa extensão de 5000 m/2, um afloramento de pedras monumento, as mais ancestrais de Portugal, chegaram até nós para nos extasiar, são de Rodínia, vindas de há mil milhões de anos, Dos Confins do Tempo…