Mirandela

Diretor da escola frequentada pelo jovem autista morto pela mãe estranha relatos de comportamento agressivo

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2020-07-09 10:38

Rui Correia é diretor do Agrupamento de Escolas “D. Afonso III” de Vinhais há 13 anos, onde há 11 anos nasceu um projeto pioneiro a nível nacional para crianças autistas. “Nessa altura era uma unidade específica para tratar de crianças do espectro do autismo, agora com a nova legislação é um ensino diferenciado para crianças com autismo”, explica o diretor.

O projeto visa “ajudar as crianças com autismo a desenvolver competências específicas ao nível da aprendizagem, do comportamento, da interação social, e da comunicação com vários espaços de atividades que passam pela simples brincadeira, pela pintura, expressão plástica e educação física”, adianta Rui Correia.

As crianças estão integradas em turmas e, consoante a necessidade, frequentam a sala de ensino estruturado que tem afeta dois professores do ensino especial e dois assistentes operacionais. “Essas crianças nunca estão sozinhas têm acompanhamento permanente”, revela o diretor.

Um dos primeiros alunos a frequentar esta unidade, criada em parceria com o Município de Vinhais e a Direção Regional de Educação do Norte, foi o Eduardo José, o rapaz de 17 anos que terá sido morto pela própria mãe, na passada segunda-feira, em Cabanelas (Mirandela).

Rui Correia ficou chocado com esta tragédia, mas estranha os relatos de que o rapaz tinha ficado agressivo nos últimos tempos. “Não era nada problemático. Era uma criança muito doce, nunca nos deu qualquer problema ao longo dos 11 anos que aqui esteve, nunca protagonizou qualquer episódio de violência. Também dizem que ele tinha epilepsia, mas isso é muito recente e aqui nunca aconteceu nenhum episódio relacionado com isso”, conta.

“Ele tinha uma perturbação no espectro do autismo grave, aquilo que se chamava antigamente o autismo regressivo. Começou por articular algumas palavras, mas com o tempo foi perdendo faculdades”.

O diretor do agrupamento estranha igualmente os contornos desta morte. “É muito estranho o que aconteceu porque tínhamos conhecimento que a mãe só vivia para o Eduardo. Eles eram muito próximos”, afirma.

“Tive conversas com pais e encarregados de educação de crianças ditas normais em que com esta situação do Covid estavam mesmo passados em casa e acredito que tenha acontecido a mesma coisa com a mãe do Eduardo e possa ter chegado a um ponto de saturação”, acrescenta Rui Correia para quem estas famílias deviam ter outro tipo de apoio para lá do que é feito em contexto escolar, todos os dias da semana das 09,00 horas até às 17,40 horas. “Porque alguém que está sozinha a tomar conta de uma criança com este tipo de problemas, 24 horas por dia, não deve ser nada fácil, deviam ter outro acompanhamento que não só a escola”, sustenta.

Depois de decretado o encerramento da escola, em meados de março, devido à pandemia da Covid-19, havia um acompanhamento permanente por parte de uma professora. “Como ele e a mãe nem sequer sabiam ligar o computador não era possível ter as aulas por internet pelo que a alternativa era propor atividades semanais e a professora ligava para a mãe, uma ou duas vezes por semana”, refere.

O autismo é uma perturbação do desenvolvimento que nem sempre é detetada à nascença. Por norma, só a partir dos dois ou três anos de idade é que a doença é despistada sendo que dentro do autismo existem depois patologias diferentes que pedem diferentes intervenções. Quanto mais cedo for feita uma intervenção, melhores serão os resultados.

Ao que o Mensageiro apurou, em termos de apoio de retaguarda de outras entidades, esta família estaria a receber um subsídio de bonificação por deficiência da Segurança Social, uma prestação em dinheiro que acresce ao abono de família das crianças ou jovens com deficiência que está dependente dos rendimentos auferidos.

Esta situação não estava sinalizada pela rede social do Município, dado que a própria mãe nunca fez questão de solicitar qualquer tipo de apoio.

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