A opinião de ...

Liberdade, aonde vais?

Nos anos de 1990, cantava assim João Aguardela, vocalista e mentor dos Sitiados:
“Ai, esta eterna guerra
Ai, que me obriga a ser soldado
Já vejo a bandeira erguida
Já sinto a dor companheira
  
Ai, neste mar fico tão só
Por este mar
Liberdade onde vais?
Liberdade onde cais?
  
Esta luta é por te amar”

Quando estamos a quatro dias de celebrar o 25 de abril, o Dia da Liberdade em Portugal, há cada vez sinais de retrocesso numa das principais conquistas de Abril, a liberdade de expressão.
Já no início do século XX, em 1906, a escritora britânica Evelyn Beatrice Hall resumia o pensamento do filósofo francês Voltaire, da seguinte forma: “Eu desaprovo o que dizeis, mas defenderei até à morte vosso direito de dizê-lo”.
A guerra na Ucrânia acordou alguns fantasmas que já há muito andavam adormecidos pela Europa.
Desde logo, porque Vladimir Putin pretende castigar a Ucrânia por ter um pensamento diferente do seu, sobretudo em relação à NATO (que, note-se, nunca desde a sua criação fez qualquer menção de atacar a Rússia).
A incongruência de Putin fica patente na forma como o Kremlin respondeu ao Presidente norte-americano, Joe Biden, quando este defendeu que Putin não poderia continuar no poder na Rússia.
Citado pelo correspondente da CNN Internacional em Berlim, Frederik Pleitgen, o porta-voz de Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a decisão de afastar Putin não cabe ao presidente norte-americano, mas sim aos cidadãos da Federação Russa. Ora, a mesma lógica devia, então, aplicar-se à Ucrânia, que deveria ter a liberdade de escolher a que associações ou tratados quer aderir.
No mundo ocidental, a Liberdade de Expressão está cada vez mais cortada pelo politicamente correto. O exemplo flagrante acabou por vir de onde menos se esperava, com a bofetada de Will Smith ao apresentador da cerimónia de entrega dos Óscares, Chris Rock, porque não gostou de uma piada sobre a sua mulher (na verdade, Will Smith até começou por se rir. Só reagiu depois de ver a cara de poucos amigos de Jada Pinkett Smith).
No conceito de liberdade adotado pelo mundo ocidental, Chris Rock tem o direito de tentar fazer uma piada sobre a alopécia de Jada Pinkett Smith. O público tem o direito de não gostar, de não se rir e de criticar o humorista. Não de recorrer à violência.
O mesmo se aplica ao cronista Carlos Fernandes, que nas anteriores edições do Mensageiro de Bragança teceu críticas à forma como o PCP encara a guerra na Ucrânia.
Podemos concordando ou discordar, achar que Carlos Fernandes é um visionário ou um tolo e podemos sempre criticar a sua opinião.
Mas foi pelo direito a tê-la e a torna-la pública que o PCP se bateu durante anos contra a ditadura em Portugal.

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3880

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